O aspecto mais chocante das denúncias de manipulação das verbas do Fundo Eleitoral – que envolvem sobretudo o PSL mas agora alcançam outros partidos – usando candidatas laranja, não é nem a capacidade dos políticos de driblar a lei, e nem as quantias envolvidas. O caso do laranjal é, acima de tudo, a desmoralização da participação feminina na política.
Ao se deixarem usar pelos partidos, que precisam cumprir tabela e obedecer à lei que estabeleceu cota para candidaturas femininas e para destinação de recursos para elas, as “laranjinhas”, obviamente, buscavam vantagens pessoais e até pagamento – já que ganhar a eleição sempre esteve fora de cogitação.
Com isso, porém, são responsáveis por enorme retrocesso na difícil caminhada das mulheres por mais representatividade e influência na política. Nosso sistema político é tradicionalmente machista, e os números de cadeiras conquistadas nos legislativos por mulheres a cada eleição mostra isso claramente.
Se descontarmos as mulheres, filhas e aparentadas de políticos, são poucas aquelas que se elegem por méritos próprios, a partir de uma carreira política consistente, construída por elas mesmas.
A lei que exige que 30% das candidatas sejam mulheres, e a que destina parte da verba do fundo eleitoral a elas, foi, naturalmente, criada com a melhor das intenções. E não deve ser revogada, porque é o início de um caminho. Está longe, porém, de resolver uma questão que começa dentro de casa, quando cada menina chega da maternidade vestida rosa e cada menino de azul. E que prossegue na educação recebida por cada um e cada uma na família, nas escolas, nas instituições da sociedade.
Já havíamos constatado, com a eleição de Jair Bolsonaro e sua pauta regressiva de costumes, que o caminho será mais longo do que imaginávamos. Na política, nunca contamos mesmo com a parceria de boa parte dos meninos. Hoje em dia, eles andam, em sua maioria, de azul ou de verde, a cor da moda. Mas o que mais dói é constatar que tantas meninas aceitam e gostam de laranja…