O drama dos jovens parlamentares trapistas

Os jovens trapistas do Congresso. Assim estão sendo chamados os novos deputados e alguns senadores que chegam ao Parlamento como marinheiros de primeira viagem. Trata-se de uma alusão aos monges da ordem religiosa mais rígida do catolicismo, que cultiva a pobreza absoluta e radical entre seus frades.

A maior parte deles são fruto do sucesso de mensagens de campanha nas redes sociais, onde pregação e a promessa da austeridade era o grande mote desses candidatos. As plataformas tinham sempre como ponto de honra cortar gastos.

Sem mordomias

Nada de benefícios, de mordomias ou de vantagens, mesmo que legais. Chegando a Brasília, a maior parte desses parlamentares decidiram pôr em prática e alardear a seus eleitorados que estavam seguindo à risca esse propósito: dispensaram os auxílios de verbas além do salário básico e se instalaram monasticamente nos imóveis funcionais.

Embora alguns tenham ido além, recusando os apartamentos do Congresso. No lugar da mordomia, procuraram alugar imóveis pela cidade ou se instalar em hotéis baratos. Os veteranos olham e calam. Cada um, cada qual, dizem.

Acabou o dinheiro

O neófito vê o valor do salário de um deputado federal, compara com seus ganhos convencionais dos tempos de candidato irado, e acha que dá para levar: salário básico, R$ 33.763,00 brutos. Com isto dá para se sustentar, raciocina.

O jovem parlamentar abre mão de tudo o mais. Do básico,  menos os descontos em folha, terá de pagar aluguel, a diária da empregada, combustível para o carro, passagens aéreas, transporte em Brasília e hospedagem para si e assessores que ficam nas bases cuidando do eleitorado.

Então acabou. Só para ilustrar, conforme a situação, uma passagem aérea tirada de véspera (o que mais acontece devido às urgências de suas movimentações) pode chegar a mais de dois mil reais.

Dói no bolso

Quando as contas começam a chegar, então ele olha para o lado e se arrepende, ao ver seus colegas da “velha política” indo e vindo, trazendo seus cabos eleitorais a Brasília, mantendo um escritório na base eleitoral. Na capital do estado e, às vezes, na cidade sede de seu feudo.

Então ele depara com a Cota Para Exercício de Atividades Parlamentares que desprezou, algo entre 30 de 45 mil mensais, dependendo do preço das passagens aéreas (tarifa cheia) entre a Capital e seu estado de origem, hospedagem, combustível, contratação de serviços de segurança, consultorias, além de ressarcimento integral de despesas de saúde. Somando tudo, pode chegar a 168,6 mil reais por mês. Aí que chega aquela dor insuportável no bolso.

República de assessores

Dois comentários das raposas da velha política: sem equipes profissionais para apoio, os parlamentares ficarão na dependência exclusiva das assessorias e consultorias do próprio Congresso, entrando em filas intermináveis para pareceres e redação de seus projetos. Quando se virem de mãos amarradas, na dependência de líderes e funcionários de carreira, terão de rever seus propósitos e ocupar os espaços disponíveis.

No lado pessoal: sem verbas, não conseguem alojar seus assessores que vieram das províncias para a capital. Os apartamentos funcionais convertem-se em verdadeiros acampamentos, divididos entre sua família e uma população móvel de uma dezena de conterrâneos.

Mais ainda: alguns desses auxiliares que vêm das bases, com salários irrisórios, convertem-se em moradores permanentes e são alojados também no mesmo imóvel. Uma grande confusão. Isto inibe e dificulta o desempenho.

Enquanto isto…

Enquanto isto, os parlamentares convencionais, eleitos com apoios mais tradicionais, como as corporações, frentes temáticas ou de distritos definidos, terão a seu serviço as ferramentas convencionais. Por exemplo: a Frente Ruralista dispõe de uma nutrida retaguarda técnica para atender às demandas de seus parlamentares.

Outras frentes parlamentares que já existem ou estão em formação podem captar recursos e usar essas contribuições para missões específicas. Com isto, a iniciativa privada pode, oficialmente, dar dinheiro para grupos de parlamentares dedicados à defesa de interesses delimitados.

É o que diz uma raposa escolada: essa meninada tem muito o que aprender.

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