No governo Jair Bolsonaro, os militares estão com tudo, inclusive com a prosa. Instalados em cargos chave no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios, os generais se sentem à vontade no trato dos mais variados assuntos. Às vezes, em voo solo; noutras, como na reforma da Previdência, atuam como tropa.
Na versão da reforma bancada pelo frágil governo Michel Temer, eles nem precisaram de maiores esforços — e pressão – para serem excluídos. Só que Paulo Guedes, à frente de uma tropa liberal, com o apoio do empresariado e da mídia, reincluiu os militares entre as corporações que teriam novas regras para se aposentar. Foi o bastante para uma reação em cadeia.
O ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, puxou o coro: “As Forças Armadas são um seguro caro que toda nação forte tem que ter. Temos uma proteção para essas especifidades da carreira. Se o nome é reforma da Previdência, não estamos nela”.
Outros generais seguiram na mesma toada. Nessa quarta-feira (9), depois de empossado como o novo comandante da Marinha, o almirante Ilques Barbosa Júnior disse que os militares não tem Previdência, mas um sistema próprio de proteção social. “A gente tem uma diferenciação física muito importante. Um médico ou enfermeiro tem um nível de prontidão física diferente de um combatente. Então, é um tema que temos de trabalhar com cuidado”.
Como estão se sentido poderosos, os generais da equipe de Bolsonaro resolveram meter o bedelho nas propostas de mudança da aposentadoria inclusive para outras corporações públicas. O general Carlos Alberto dos Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo, é um deles: “Militar é uma categoria muito marcante, de farda. Militares, policiais, agentes penitenciários, Judiciário, Legislativo, Ministério Público possuem características especiais, que têm de ser consideradas e discutidas”.
Justamente por alegarem “especificidades” e “características especiais” que as corporações conseguiram tantos privilégios e uma distância gritante das condições de aposentadoria de médicos, enfermeiros, operários, agricultores e de todos que estão fora desse guarda-chuva especial. Com um agravante: a conta dessa enorme diferença é paga por todos os contribuintes.
Essas manifestações dos militares, inclusive em defesa de outras categorias, talvez expliquem o vai e vem nas posições do presidente Bolsonaro. Ora ele parece alinhado a Paulo Guedes, ora põe uma trava em pontos centrais da proposta de reforma da Previdência.
Se mais uma vez, as corporações mais privilegiadas forem poupadas, será mais do mesmo. Ou se quebra essa castanha ou as contas públicas vão continuar no buraco. E, como sempre, vão querer espetar o custo disso tudo no contribuinte.
A conferir.