Levantamento recente do Instituto Datafolha estimou que 65% dos brasileiros estão otimistas em relação ao governo Bolsonaro, entre aqueles que acreditam que o governo iniciado no dia 1º de janeiro deverá ser bom ou ótimo.
O clima otimista que se instalou pós-eleição não é suficiente para mascarar o estado anêmico em que se encontra a economia brasileira. Não devemos nos iludir; viemos de um ano duro e 2019, ainda que deva apresentar alguma melhoria em relação ao ano anterior, deverá apresentar resultados limitados no que se refere a finanças públicas, geração de emprego e elevação da renda dos brasileiros. E são esses os indicadores que, ao fim e ao cabo, de fato interessam no momento em que o empobrecimento da população e a crise nas políticas públicas são os sentimentos predominantes: repetindo, melhoria nas finanças públicas, geração de emprego e elevação de renda.
Letargia
A verdade é que em 2018 o ritmo de retomada do nível de atividade da economia brasileira desacelerou intensamente, revelando o grau de dificuldade de darmos partida a um novo de ciclo de crescimento vigoroso que permita a elevação expressiva da renda e do emprego. Enquanto entre 2016 e 2017 saímos de uma retração de 3,3% do PIB para um incremento de 1,1%, registrando, portanto, um ganho de 4,4 pontos percentuais no ritmo de crescimento, entre esse último ano e 2018 o PIB agregou apenas 0,3 pp na taxa de incremento, para se situar em torno de 1,4%, se tanto. Ou seja, quando consideramos o ritmo de retomada da economia depois da recessão, andamos de lado ao longo de 2018. É pouco, muito pouco diante da devastação econômica e social dos últimos anos.
Cabe não esquecer que iniciamos o ano de 2018 com a expectativa de que o PIB apresentaria incremento de 2,7%, taxa que, se não é espetacular, indicaria possibilidades de retomada substantiva do crescimento econômico.
Muito do que se apresenta hoje como indicadores econômicos favoráveis, como a inflação comportada, juros básicos rebaixados e o saldo favorável da balança comercial, são na verdade reflexos irrefutáveis de como a economia brasileira permanece letárgica. Adicione-se que a recuperação anêmica do nível de atividade tem sido muito desigual em termos regionais: enquanto o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-BR) apresentou incremento de 1,4%, na comparação entre os dez primeiros meses de 2018 e o mesmo período de 2017, no caso da região Nordeste o crescimento do Índice de Atividade Econômica Regional (IBC-R) no período se limitou a 0,2%.
Perspectivas
Os dados duros a respeito da atividade econômica em 2018 não escondem o fato de que o crescimento do PIB deverá acelerar em 2019. As projeções podem variar entre 2,4%, do Relatório de Inflação do Banco Central, de dezembro de 2018, até 2,8%, de instituições financeiras mais otimistas. Sabemos, todavia, que, nos últimos anos, as expectativas formuladas de recuperação mais vigorosa têm se revelado seguidamente frustradas, por fatores de diversas naturezas.
A principal força que deverá impulsionar o crescimento do PIB em 2019, pouco se fala disso, tem um caráter quase que “automático”, no sentido de que desde o 1º trimestre de 2017 a economia superou a etapa declinante do ciclo econômico e iniciou a de retomada e, ainda que a recuperação venha se revelando muito vacilante, os mecanismos cíclicos da atividade econômica devem continuar impulsionando alguma aceleração de crescimento.
A melhoria da confiança empresarial, em vários segmentos econômicos, e das famílias, associada ao resultado eleitoral e às expectativas em relação à implementação das reformas prometidas, pode sim constituir fator favorável à aceleração do crescimento, mas o impacto, a duração e os desdobramentos que terá são muito incertos e seus efeitos devem ser cotejados com as limitações e as incertezas persistentes, no cenário interno e no quadro internacional.
O ponto central, determinante para a intensidade da retomada do crescimento, é que não estão claras as forças de demanda que o impulsionarão em 2019 e anos seguintes. Por mais que os fatores relacionados à melhoria da confiança dos chamados agentes econômicos (empresas e famílias) possam atuar favoravelmente persistem fortes restrições ao incremento dos gastos empresariais e do consumo das famílias, sem falar nas limitações fiscais e legais para a expansão dos gastos públicos.
A situação do mercado de trabalho é ainda muito precária e o grau de endividamento das famílias permanece muito elevado para se contar com uma retomada firme da demanda por consumo, enquanto o grau de endividamento das empresas, a elevada ociosidade de recursos nos diversos segmentos produtivos e, sobretudo, a falta de um equacionamento para a crise da construção civil, não autorizam expectativas muito otimistas para a retomada dos investimentos.
* Ricardo Lacerda é professor de economia da Universidade Federal de Sergipe