O senador Antônio Anastasia está com um pé no comando nacional do PSDB. Ou do que sobrou desse partido. O cavalo (estropiado, é verdade) passa encilhado. Embora o ex-governador tenha sofrido uma derrota acachapante para o novato Romeu Zema, de todos os grandes nomes tucanos, foi ele o que se saiu melhor da eleição de 2018. Previu a derrota, sacrificou-se pelo projeto nacional e cumpriu o seu dever. No Congresso, deve ser um dos grandes líderes do Senado, nesta segunda parte de seu mandato.
Dentre grandes estados, Minas é o melhor colocado para recolher os cacos do tucanato, pois o outro vencedor, o gaúcho Eduardo Leite, ainda é muito jovem, marinheiro de primeira viagem, para comandar um partido tão complexo como o PSDB. O detentor natural desse poder, São Paulo, estaria fora do processo, pois embora tenha vencido no Estado, o governo paulista está derivando para outro lado. É a vez dos mineiros.
Mas há outras possibilidades no ar. O racha no PSDB promovido pelo novo governador de São Paulo está produzindo uma rearrumação nos quadros tradicionais da política brasileira. O governador João Dória e seus cabeças pretas, como são chamados os jovens tucanos, marcham para abandonar a velha social democracia e adotar como programa um liberalismo mais condizente com os novos tempos, segundo seus entendimentos.
Os velhos tucanos estão procurando outro ninho. Podem se aliar aos dissidentes da esquerda marxista não-petista, aliados dos tempos da resistência democrática, entendendo-se novamente para formar um novo partido político. Esta é a versão que corre nos bastidores da capital federal, mas ainda não se configurou como um movimento e nem se sabe ao certo quem estaria articulando esse acordão.
A narrativa é que estariam no grupo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-governadores e candidatos presidenciais derrotados, Geraldo Alckmin, Álvaro Dias e, ainda muito incerto, Ciro Gomes. Alguns falam em atrair Marina Silva. Além desses, estariam no projeto os senadores José Serra (PSDB/SP), Tasso Jereissati (PSDB/CE – aliado histórico de Ciro Gomes), o atual chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, ex-ministro Aldo Rebelo, o presidente do partido Solidariedade, Paulinho da Força (que contribuiria com sua base sindical para dar mais peso proletário ao agrupamento de centro-esquerda), dentre outros.
Um nome mencionado, mas ainda considerado improvável, seria do atual presidente do Senado, Eunício Oliveira. O senador cearense não se filiaria, em hipótese alguma, a uma agremiação integrada por seus arquirrivais, os irmãos Cid e Ciro Gomes. Além disso, Eunício está sendo cogitado pelo grupo nordestino para assumir a presidência do MDB nacional, que teve seu melhor desempenho nos estados daquela região. Com o fim do atual governo, o presidente tido como vitalício do MDB, o paulista Michel Temer, deixaria o comando da agremiação, que desde sua projeção como grande partido, nos anos 1970, sob o comando de Ulysses Guimarães, sempre teve à frente um prócer paulista.
O nordeste será o grande campo de batalha política a partir do ano que vem, disputado voto a voto pelos petistas, que detém o espólio do ex-presidente Lula, pelos emedebistas que conquistaram alguns estados chave, e, ainda, pelo novo presidente Jair Bolsonaro, que conta com o abandono da esquerda pela massa de beneficiários do Bolsa Família. Até as eleições municiais de 2020 estas novas acomodações devem estar consolidadas para a luta eleitoral nos municípios.
Voltando a Minas, resta ainda especular sobre qual será o papel do ex-chefão Aécio Neves, recém-eleito deputado federal. Com sua fama de ter sete vidas, ele estaria neste momento submerso, navegando em profundidade de periscópio, para emergir na hora certa. A oportunidade não viria antes da eleição municipal de 2020, quando, então, teria oportunidade de enfrentar o governador eleito Romeu Zema.
A vantagem relativa do PSDB no Estado para uma eleição municipal é sua capilaridade. O novo governo ainda não terá tempo para organizar-se em mais de 800 municípios para enfrentar seus antigos adversários tucanos e petistas. Além disso, os derrotados em 2018 podem, pacientemente, esperar que o governo Zema não consiga se implantar plenamente, dada à improvisação e à própria inexperiência do vencedor (ele não está propondo contratar Heads Hunter para formar o secretariado?). Quando chegar o momento, os velhos políticos teriam campo livre para sair da toca e isolar o Palácio da Liberdade. Como diz o veterano deputado Patrus Ananias: “Minas é a expressão do Brasil”. Esse quadro se repete nos demais estados com eleições surpresa? Só tempo pode responder.