Toma que o filho é teu. Esse foi o principal recado do comandante do Exército, general Villas Bôas, em entrevista à Folha de S.Paulo neste domingo, quando disse que o futuro governo Bolsonaro não representa a volta dos militares ao poder: “Absolutamente não é”. Villas Bôas verbalizou publicamente o que vem sendo dito nos bastidores por generais de três e quatro estrelas: Bolsonaro não os representa na presidência da República.
Aliados de Bolsonaro não gostaram da entrevista, que expressou um distanciamento da cúpula do Exército em relação ao futuro governo e deu nome aos bois: segundo Villas Bôas, Bolsonaro é “muito mais um político do que um militar”. Mas ela expressa rigorosamente o que se diz nos gabinetes militares de Brasília, onde militares de alta patente dizem ter votado em Bolsonaro por falta de opção- já que não queriam o PT de volta – e agora temem que eventuais desgastes e fracassos do novo governo acabem grudando nas Forças Armadas. Elas não querem ser sócias de Bolsonaro nesse empreendimento, preferindo manter o papel constitucional que vêm desempenhando desde que saíram do cenário politico.
Lembram ainda que o presidente eleito tem, sobretudo, uma imagem de capitão rebelde entre seus ex-companheiros de Exército, que nunca apoiaram sua retórica radical. A escolha do general de quatro estrelas Hamilton Mourão para a vice de Bolsonaro também não facilita as coisas. Mourão se reformou, no início deste ano, depois de diversos episódios de desentendimento com seus superiores, alguns em que defendeu posições polêmicas a favor de intervenção militar e outros radicalismos.
O temor de politização dos militares menos graduados – também expresso na entrevista do comandante- está presente nas conversas, e por isso sua substituição no comando do Exército será feita com enorme cuidado, recaindo sobre um general com discurso firme a favor do cumprimento estrito da Constituição e das atribuições nela previstas para as Forças Armadas, afastando qualquer hipótese de intervenção militar.
De certa forma, as palavras de Villas Bôas serviram para tranquilizar setores políticos, que devem fazer ressoar esse discurso nos próximos dias.