Há 48 horas o país vem sendo bombardeado pelas gravações do homem-bomba Sérgio Machado com os caciques do PMDB no Senado. Pode até não haver comprovação de crime nas conversas, mas há uma vexaminosa e degradante demonstração de como funcionam, na prática, nossa política e nossos políticos. Há tempos eles já não vinham bem na foto, mas agora estão todos nus.
Boa parte do establishment político e econômico do país dedica este fim de semana prolongado a trocar ideias sobre o que vai acontecer agora.
O mais novo escândalo da Lava Jato, que custou a cabeça de um ministro do Planejamento empossado há menos de duas semanas, atinge em cheio o partido do presidente interino da República e o Senado Federal, que no momento conduz o julgamento da presidente afastada e dará a decisão final sobre seu impeachment.
Todas as atenções estão voltadas agora para Renan Calheiros, o sujeito que tem a governabilidade do Senado nas mãos e que acabou exposto nas gravações de conversas que discutiam formas de acabar com a Lava Jato.
Guardadas as proporções, é possível dizer que Michel Temer está para Renan Calheiros como Dilma Rousseff esteve para Eduardo Cunha nos tempos pré-impeachment na Câmara. Se Renan quiser, pode tumultuar o processo para agir em causa própria. Ou não. Ninguém sabe o que ele fará, mas é certo que tem nas mãos boa parcela do destino do governo Temer, pois controla também a pauta do Congresso.
Outra semelhança involuntária entre Temer e Dilma é a forma como cada presidente se coloca diante de seu partido: tanto quanto Dilma fez questão de mostrar que de nada sabia sobre a bandalheira do PT na Petrobras, Temer vai querer distanciar-se do PMDB agora atingido irreversivelmente. Conseguirá?
Cedo para dizer. São remotas as chances de que o Temer de hoje venha a ser a Dilma amanhã, já que o presidente interino ainda tem o apoio da maioria do Congresso, da mídia e do mercado.
Mas o mundo já não sorri a Temer como há duas semanas, e aqui e ali já se escuta novamente a conversa de convocação de novas eleições.