Com sua lerdeza analógica, a Justiça Eleitoral começou a se preocupar agora com o WhattsApp. Ainda que soe como colocar cadeado em portão arrombado, a iniciativa do conselho consultivo de Internet do TSE de considerar o aplicativo uma rede social, e aplicar a ele as regras e punições usadas nas redes para coibir fake news é até louvável. Mas tudo indica que chegou tarde e será pouco efetiva. As eleições de 2018 vão passar à história como o maior festival de notícias falsas, calúnias e empulhação de que já se teve notícia numa democracia de massas moderna – pior até do que a Trumplândia.
Por quê? Porque a maior parte dos políticos e partidos analógicos não tinha dimensão da amplitude que esse recurso iria ter, e da aderência do eleitor desiludido e revoltado ao que se propagou ali -algumas verdades e muitas, muitas mentiras. Poucos perceberam a utilidade desse recurso, e certamente Jair Bolsonaro foi um deles. O PT, o PSDB e outros analógicos engoliram mosca e o país está prestes a eleger um candidato construído na internet nos últimos dois ou três anos, sem maiores confrontos ou debates com o adversário.
Muitos estudos serão feitos sobre o declínio da TV como fazedora de reis e presidentes. O que importaria agora seria correr atrás do prejuízo e tentar evitar um segundo turno decidido na base do medo e da mentira. Mas nem no TSE parece haver consenso a respeito de uma fiscalização mais rigorosa do WhattsApp. No fim da semana, o ministro Luiz Salomão negou um pedido de exclusão de um vídeo, feito pela campanha de Fernando Haddad, respondendo que o WhattsApp é um recurso de comunicação privado que não poderia sofrer esse tipo de interferência.
Acima de tudo, esse tipo de decisão, que desconhece o óbvio, mostra o quão analógicas são ainda nossas instituições políticas. Como em todos os momentos em que foram introduzidas mudanças tecnológicas na história da humanidade, dão-se bem os espertos e, muitas vezes, inescrupulosos que correm a usá-las a seu favor, ignorando a ética e outros princípios. Quase sempre, deixam um rastro de vítimas, só reconhecidas quando a história avança no seu inventário de erros acertos. Sempre tarde demais.