Evidente a insatisfação país afora com os costumes em geral. Nem é questão de gostar. As novelas da Globo são sucesso entre gente atraída por enredos e belezas que nem sempre gosta das ousadia em questões gênero. Nem é pela exploração de concorrentes como a Record, ligada a Igreja Universal. É, sim, por telespectadores, evangélicos ou católicos, manterem um pé atrás.
As novelas e outras produções globais, que tentam quebrar preconceitos, estimulam discussões saudáveis na sociedade, mas também alimentam resistências conservadoras, igualmente legítimas, no Brasil afora.
É nesse amplo nicho que candidatos pregam com sucesso em palanques em todo o País. Esse conservadorismo mostrou sua cara por todos os lados, esbanjou votos em áreas tidas como progressistas no Rio de Janeiro e São Paulo. A vida no Leblon parece bonita em seu dia e dia e nas ficções, mas se choca com a dura realidade das periferias.
Jair Bolsonaro nadou nessas águas conflitantes. Peitou os valores do “Leblon” e virou queridinho nos cultos religiosos na periferia. Até aí, conquistou alguns redutos com muitos votos, mas alcance limitado.
Bolsonaro surfou mesmo foi na onda contra a corrupção, puxada pela Lava Jato, que nem era bem dele, um errante em partidos envolvidos em escândalos. Entrou no vácuo da incapacidade do PT, PSDB e MDB reagirem ao afogamento de suas principais lideranças no pântano da corrupção. O PT continua até hoje pendurado em Lula, preso em Curitiba cumprindo sentença por corrupção e lavagem de dinheiro. Não deu certo. Até apostas tidas como imbatíveis — Eduardo Suplicy e Dilma Rousseff, por exemplo — não passaram pelo crivo dos eleitores.
Os tucanos fazem um discurso moralista, mas passaram a mão na cabeça de Aécio Neves, gravado pedindo propina, e de outros caciques igualmente enrolados. Estão pagando o preço nas urnas.
No MDB é um salve-se quem puder — as urnas estão mandando, entre outros, Romero Jucá, Eunício Oliveira e Edison Lobão para a temida jurisdição de Sérgio Moro, em Curitiba. A partir de janeiro, com a troca de guarda no Palácio Planalto, segue a fila com Michel Temer, Moreira Franco e Eliseu Padilha.
Nesse confuso processo eleitoral, com uma balbúrdia nos programas no rádio e na tevê, e uma insana troca de fake news nas redes sociais, um atordoado eleitor pescou daqui e dali e fez sua revolução, com renovações históricas na Câmara e no Senado.
Pode até ter errado alguns alvos, mas fez a sua parte.
O que escapou nos escombros da política tradicional, se não quiser ser esmagada de vez, tem que saber entender que esse tsunami é uma soma de muitos recados que ainda não entenderam.
É a última chance de ouvi-los.
A conferir.