Vai aí uma pequena cronologia de Romero Jucá durante a crise de ontem, para ficar claro quem derrubou o ministro.
Pela manhã, em entrevista divulgada pela Globo News, o então ministro do Planejamento falou sobre a gravação de suas conversas com o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, divulgadas pelo jornal “Folha de S.Paulo”:
“Não me sinto sem condições de trabalhar como ministro (…). Vou continuar trabalhando.”
Naquela altura já era público e notório o desconforto que causava ao presidente e ao governo. Que não havia mais condições. Mas aí Jucá encontrou-se com Michel Temer.
Logo depois, no início da tarde, frisando ter conversado com o presidente Michel Temer, o ministro concedeu uma ampla entrevista coletiva de imprensa. Voltou a afirmar, com todas as letras, que continuaria no comando do Ministério do Planejamento.
“O cargo de ministro é uma decisão do presidente Michel Temer. Vou exercê-lo na plenitude enquanto entender que tenho a confiança do presidente. Há muita coisa para fazer e eu vou fazê-lo até o dia que ele entender que eu tenho condição de atender esse papel.”
Mas, às 14h41, o Jornal “O Globo” soltou um editorial online. Sinceramente, não lembro de outro editorial online da chamada “imprensa escrita”.
Parecia um aviso: Olha, ou o Jucá deixa o governo, ou vocês do governo vão perder nosso apoio.
Às 16h Jucá e Temer chegaram ao gabinete do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), já com a decisão tomada. Na saída, o ministro concedeu aquela tumultuada entrevista em que anunciou que deixaria o ministério.
Confira abaixo trechos do editorial que derrubou o ministro.
Editorial: A hora de Temer
POR O GLOBO
(…)
O CONTEÚDO do que foi revelado, e não desmentido pelo ministro em entrevista coletiva, torna inviável a sua permanência no governo. O presidente interino pode inviabilizar sua gestão caso decida manter Jucá.
O MINISTRO dá explicações clássicas, reclamando de que frases estão fora de contexto e assim por diante. Mas fica translúcido que Jucá e Machado, dois apanhados nas malhas da Lava-Jato — o ministro ainda sendo investigado —, tramavam barrar a Operação num eventual governo Temer. O contrário do que o próprio presidente se comprometeu a fazer ao assumir. Os diálogos, portanto, também atingem Temer.
ATÉ PARA NÃO DAR RAZÃO aos lulopetistas que denunciam uma trama contra a Lava-Jato por trás do impeachment de Dilma, o presidente não pode demorar para afastar o auxiliar. Ou o próprio Jucá deve entregar o cargo, para poupar Temer de mais dissabores. O tempo corre contra o governo.