O sucesso em apostas improváveis costuma iludir apostadores. Muitas vezes perdem o timing sobre a hora de parar. Esse é o dilema de Lula e do PT. O partido vem seguidamente dobrando suas apostas em batalhas judiciais sabidamente perdidas. A avaliação interna é que Lula, mesmo tomando surras na Justiça, continua tendo ganhos políticos e mantendo excelente desempenho nas pesquisas eleitorais.
Encantado com a própria performance, mesmo preso em Curitiba, Lula gostaria de continuar esticando essa corda. Com uma pontinha de desgosto, ele sabe que não dá mais para adiar a passagem do bastão para Fernando Haddad, que aguarda obediente e contida impaciência pela demora.
Pelo script, o bastão só trocaria de mãos depois de uma blitz de petições ao TSE e ao STF, que manteriam a militância mobilizada, e mostrariam a luta de Lula até a undécima hora por um julgamento justo. A rejeição nos tribunais dessa verdadeira chicana alimentaria a narrativa de que Lula foi vítima de um complô armado pelas “elites” para ele ser barrado das eleições presidenciais. Estariam nesse conluio contra Lula a Polícia Federal, o Ministério Público, a Receita Federal, os juízes em todas as instâncias, a imprensa…
Apesar de todos os disparates, essa versão, amplamente difundida nas redes sociais e na própria imprensa, daria grande ibope à saída formal de Lula do páreo, marcada para essa terça-feira (11). Para sua militância, o que vale é ele continuar como líder nas intenções de voto. Por essa ótica, pouco importa ele ter sido barrado pela Lei da Ficha pelo fato de ter sido condenado, em duas instâncias, por corrupção e lavagem de dinheiro.
O atentado contra Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora, atropelou esse roteiro petista. O papel de vítima nessa sucessão presidencial mudou de endereço, de uma cela na Superintendência da PF em Curitiba para uma UTI no Albert Einstein, hospital de ponta em São Paulo.
O problema para a turma de Lula é que, apesar das novas tentativas de ganhar tempo na Justiça, o prazo acabou. Se não fizer a troca de guarda até a meia-noite da terça-feira (11) corre sério risco de ficar fora da eleição. Alguns devotos até defendem morrer eleitoralmente abraçados a Lula, mas o pragmatismo em todas as instâncias partidárias não quer nem ouvir falar nisso.
Portanto, com ou sem fogos de artifício, Lula está fora.
A dúvida que ainda persiste é sobre o impacto da facada em Bolsonaro na corrida presidencial. Os tais trackings (monitoramentos) e algumas pesquisas qualitativas indicam que, pelo menos nesse primeiro momento, ele teria conquistado alguns pontos. São um pouco mais que conjecturas. O que realmente pode dar um parâmetro é a pesquisa que será feita e divulgada hoje pelo Datafolha.
A conferir.