Desde que pisou na bola na edição do debate entre Lula e Collor, no segundo turno da histórica eleição de 1989, a Globo virou protagonista nas sucessões presidenciais. Por mais que tente se esquivar, não consegue sair do foco.
A cada quatro anos, busca entrar em cena de maneira insípida, com caravanas país afora ou, desta feita, com selfies de moradores de cada uma de milhares de cidades brasileiras.Desde o trauma de 89, os debates ficaram engessados. Entrevistas com os candidatos, tom e perguntas com alguma ousadia, foram uma boa opção. As queixas continuaram. As torcidas questionavam os entrevistadores. A Globonews agora radicalizou. Escalou nove (!) estrelas para entrevistar os presidenciáveis. Algumas, acostumadas a exercer o ofício em voo solitário; outras, figuras carimbadas nas mesas-redondas sobre política. Somados e subtraídos tempo, cacoetes, egos, um risco enorme.
A estreia com Álvaro Dias não deu liga. A turma sufocou o entrevistado, que, surpreso com tantas interrupções, mal conseguiu vender seu peixe em um pingue-pongue picotado. Parece que Dias –lanterninha nas pesquisas entre os presidenciáveis escalados para a sabatina – foi uma espécie de projeto piloto para a bancada da Globo. O resultado foi tão morno que sequer serviu de contraponto para a avassaladora entrevista de Jair Bolsonaro no Roda Viva.
Tudo foi diferente com Marina Silva. Ela não caiu na mesma armadilha que Álvaro Dias. Toda vez que algum entrevistador tentou acuá-la, ela se mostrou preparada para escapar. Quando a resposta lhe poderia ser inconveniente, saía pela tangente, alegando que a questão deveria ser mais debatida. Ao exibiram a entrevista, de quatro anos atrás, em que mentiu sobre um importante voto no Senado Federal, Marina disse que esperava a pergunta depois de assistir a uma pegadinha semelhante com Álvaro Dias. Lembrou que já fora cobrada pela mesma coisa por Dilma Rousseff na campanha de 2014. Emendou com uma defesa de reforma tributária e seguiu em frente, sem ser incomodada.
Marina se saiu bem melhor que Álvaro Dias. Pode até ter se beneficiado por uma mudança de comportamento dos entrevistadores. Com algumas exceções, eles deixaram que ela respondesse as perguntas. Mas a diferença maior foi ter se mostrado, mesmo exibindo o jeito manso de outras campanhas, estar mais afiada e agressiva em olhares, caras e respostas. Vale conferir.
O entrevistado de hoje à noite na Globonews é Ciro Gomes. Para ele, é um teste quase decisivo. Seus tropeços na própria língua espalharam a rodinha entre seus possíveis à direita e à esquerda. Se sair-se mal, entrega de bandeja ao PT a disputa pelo o que ainda sobra de parceria no campo das esquerdas.
No horizonte que lhe resta, sair-se bem nessa entrevista é conseguir se impor perante a estrelada bancada global. E, assim, ganhar pontos nas hostes de esquerda que elegeram a Globo como grande inimigo. Simples assim.
Aos jornalistas, excelentes profissionais, o desafio é sabatinar um candidato nesse modelo em que, com tanta concorrência, mal podem perguntar.
Até agora foi ritmo de treino. Com Ciro Gomes o jogo pode ser mais pegado. Também promete com Bolsonaro.
A conferir.