O crescente número de candidaturas de militares às eleições de outubro alinhadas com o pensamento político de extrema direita do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), remete à mais sangrenta ditadura que as Forças Armadas impuseram ao país no período de 1964 a 1985. O problema, portanto, não são as candidaturas dos militares, mas as suas motivações. Leia mais: Acordos, intrigas e tramas na disputa pelo papel de anti-Bolsonaro
Essas candidaturas já passam de uma centena, e mais da metade delas está alojada no PSL, o partido de Bolsonaro. Em sua pregação nazifascista, o candidato protagonizou nessa sexta-feira (13) mais um atentado contra o penoso avanço civilizatório da sociedade brasileira, que ainda registra uma média de 60 mil mortes violentas por ano em pleno século 21. Leia também: Bolsonaro diz ao Partido que não há recursos para as campanhas regionais
Bolsonaro foi até à Curva do S, um trecho da BR-155, em Eldorado do Carajás, no Pará, cenário da maior chacina de trabalhadores rurais do país, onde discursou em defesa da libertação dos policiais militares condenados a 228 anos de prisão pelo assassinato de 19 sem-terra, dez deles mortos com tiros à queima-roupa sob o comando do coronel Mário Pantoja, no dia 19 de abril de 1996.
“Quem tinha que estar preso era o pessoal do MST (Movimento dos Sem Terra), gente canalha e vagabunda. Os policiais reagiram para não morrer”, disse Bolsonaro, em frente a troncos de castanheiras queimados que marcam o local do massacre. Um grupo de policiais que acompanhava o discurso aplaudiu, relata o repórter Leonencio Nossa, enviado do jornal O Estado de S. Paulo. Veja: Bolsonaro se faz de sonso sobre ordens para a matança na ditadura Seria Bolsonaro um Hugo Chávez enrustido?
Na época o Pará era governado por Almir Gabriel (PSDB), que mandou seu secretário de Segurança, Paulo Sette Câmara, desobstruir a BR-155 interditada pelos sem-terra que marchavam sobre o leito da rodovia em protesto contra o atraso na desapropriação de áreas para a reforma agrária. Sob as ordens do governador, Sette Câmara autorizou a ação policial e determinou “o uso da força necessária, inclusive atirar”.
A chacina atingiu também o governo tucano do então presidente Fernando Henrique Cardoso, com a demissão do ministro da Agricultura, Andrade Vieira, e sua substituição pelo senador Arlindo Porto. Para jogar uma nuvem de fumaça sobre o episódio, Fernando Henrique criou o Ministério da Reforma Agrária, desmembrando-a da Agricultura, e nomeou Raul Jungmann para o cargo de ministro.
O apoio com que o candidato Jair Bolsonaro homenageia 22 anos depois os condenados pelo massacre de Eldorado dos Carajás, remete à impunidade de seus colegas de farda que mesmo com o fim da ditadura não prestaram contas à Justiça pela morte e desaparecimento de centenas de presos políticos que estavam sob a custódia do Estado.
Ao prometer também em seu discurso aos fazendeiros do Pará perdoar multas, afrouxar a fiscalização sobre eles e aumentar a repressão aos sem-terra, se for eleito, Bolsonaro mostra a seus militares-candidatos e seguidores o caminho das pedras para a impunidade, a ser seguido por todos que, como ele, se arvoram de salvadores da pátria neste momento de desarrumação da sociedade brasileira.