Comemorado de forma algo patética pelo presidente Michel Temer em seu pronunciamento na Assembléia de Deus – “graças a Deus!” – o fim da greve dos caminhoneiros está longe de ser o fim. Parece ser, na verdade, o início de uma nova e grande encrenca, na política e na economia. Afinal, os caminhoneiros desbloquearam as estradas, mas os 87% de brasileiros que, segundo o Datafolha, deram apoio ao movimento, continuam aí e vão votar em outubro.
São brasileiros muito insatisfeitos, e pode-se dizer até revoltados, como mostra a atitude de quem fica sem transporte, sem gasolina e sem verduras nos mercados e, ainda assim, hipoteca apoio e solidariedade a quem está causando tudo isso. É um sentimento que já se sabia existir – a rejeição ao governo nas pesquisas mostra isso há tempos -, mas talvez não se imaginasse tão forte, e é evidente que sua base não está apenas no aumento dos combustíveis, mas no conjunto da obra, que vai do desemprego à insegurança.
Ao lado do acirramento do sentimento de desânimo e revolta na população em geral – que mostra estar claramente descontente com a política econômica do pós-impeachment – está um novo ingrediente: a desilusão do andar de cima, o establishment, o chamado PIB.
O desfecho da greve dos caminhoneiros, quando o governo cedeu em tudo aos grevistas, trouxe de volta às conversas desse pessoal a palavra “populismo”. O que estão dizendo? Que perderam as esperanças de qualquer crescimento razoável da economia este ano e, principalmente, que estão jogando a toalha em relação a temas como ajuste fiscal, privatizações, reformas, etc.
Não que esse pessoal acreditasse que o baqueado Michel Temer fosse fazer ainda alguma coisa até sair do cargo. Não. Mas achavam que seria possível eleger alguém de centro, fiel a esse ideário, colocando no Palácio do Planalto um reformista a partir de 2019. A greve dos caminhoneiros, e o apoio popular que recebeu – indicando que o equilíbrio centrista não está com essa bola toda junto ao eleitor – foi uma espécie de tiro fatal nesse sonho.