O ex-presidente Lula não pretende se entregar. Será preso à força. Vai esperar a chegada da polícia na sede do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo dos Campos, no ABC paulista, emblematicamente onde se revelou rebelde e formou sua liderança.
Lula não quer com isso provocar um confronto na porta do sindicato, mas, se a prisão se tornar inevitável, quer pelo menos escolher como será a imagem histórica. Ou como disse um velho amigo militante: vai o político, voltará o mito. Ninguém acredita que Lula pase mais do que alguns dias preso.
Com isto o ex-presidente sobre um degrau e esquenta a temperatura em seu entorno, convertendo um ato de cumprimento banal da Lei, no sentido formal, num ato de resistência, efetivamente político. Uma coisa é o condenado se apresentar para as autoridades; outra muito diferente é ser recolhido pela Polícia e levado coercitivamente para a cadeia.
Já esta manhã a possibilidade de mudar o formato desse fato era considerada pelos líderes petistas e advogados. As lideranças políticas estavam entusiasmadas com a possibilidade de Lula concordar com um ato dessa natureza. Já os advogados temiam que com isto acabasse provocando um enfrentamento com o Judiciário, prejudicial aos recursos nos tribunais superiores.
Segundo informações, até o momento vence a tese da resistência. Estima-se que ao correr a notícia da prisão convencional, com policiais e camburões, milhares de pessoas se concentrem em São José dos Campos, gerando uma manifestação sem precedentes. Até o momento as prisões dos petistas foram realizadas longe das multidões, foram registradas apenas com as câmeras das televisões ligadas, como foi o caso de José Dirceu, que produziu uma imagem emblemática. Neste caso, muda o enredo.
A perspectiva seria de que o ex-presidente passaria alguns dias na prisão antes de ser liberado para prisão domiciliar a pretexto de seus antecedentes, da idade e de sua condição de canceroso.
A justificativa de cela especial por ser ex-presidente serviria, na nova etapa, para autorizar a prisão domiciliar em respeito à História. Reconhecida sua situação de cidadão especial, não precisaria ficar submetido à posição de preso comum. Normalmente ex-presidentes presos, quando não são executados, ficam detidos em palácios, como foi o caso de ex-presidente Isabelita Perón, da Argentina.
Por outro lado, o açodamento da prisão revela uma ânsia de do juiz Sérgio Moro e dos desembargadores do TRF4 de Porto Alegre. O próprio presidente desse tribunal, desembargador Thompson Flores, disse ter estranhado a celeridade da prisão, como medida bem fora da regra daquela corte. Para ele o normal seria esperar a apreciação final dos embargos na terça-feira.
Neste momento os fatos ainda estão evoluindo, os prós e contras sendo pesados, vozes sensatas sendo ponderadas. Certamente se resistir será um fato político de grande relevância no País e com grande repercussão internacional.
Sérgio Moro está numa sinuca e, aparentemente, sob crítica da liderança do seu tribunal superior. Horas tensas até o fim da tarde quando se esgota o prazo de apresentação voluntária do condenado.
Texto: José Antônio Severo e Ricardo Miranda