O gabinete do interventor federal do Rio, general Braga Netto, convocou para a manhã desta terça-feira (27) uma coletiva de imprensa para apresentar as primeiras medidas da Intervenção, mas o que se viu da equipe foram planos genéricos e carentes de detalhamento e operacionalização.
Braga Netto disse que a Intervenção Federal é uma oportunidade para a Segurança Pública do Rio recuperar sua credibilidade, mas questionado sobre medidas operacionais para a melhoria da sensação de segurança foi básico em dizer que primeiro está instalando o gabinete e integrando a equipe.
Indagado sobre operações nas comunidades, o general disse que não há plano de ocupação em nenhuma favela e que o objetivo é continuar as operações pontuais. No entanto, não disse como vai evitar que após a saída das forças de segurança o crime organizado volte a dominar, como aconteceu na semana passada na Vila Kennedy.
O interventor federal disse que é fundamental valorizar as polícias, aumentar os recursos de inteligência e fortalecer as corregedorias, mas admitiu que ainda não pediu e nem recebeu repasses extras do governo federal e que conta, até o momento, apenas com o orçamento já reservado pelo governo do estado.
Não houve na coletiva a apresentação de medidas práticas para acabar com o sucateamento das policiais, como a compra de novas viaturas, computadores, impressoras, material de escritório, coletes, armas e equipamentos de inteligência e perícia.
A equipe de intervenção também não explicou como vai funcionar a integração das forças federais e estaduais e nem com quantos homens vai contar durante os dez meses de operação no Rio de Janeiro. Também não citaram outras regiões do estado onde a criminalidade tem aumentado, como a Baixada Fluminense, Região Serrana e a Costa Verde.
Outro ponto grave do não plano apresentado é a falta de integração com o Ministério Público e com a Defensoria do estado. Daí poderia sair a solução para a falta de mandados de busca coletivos, já afastados após reunião do ministro Torquato Jardim com o Tribunal de Justiça do Rio e a Advocacia Geral da União, mas o item sequer foi mencionado.
O MP poderia também ser um aliado importante no golpe às finanças das milícias e facções. Investigações já demonstraram que muito do dinheiro das organizações criminosas são lavados através de empresas de fachada e imóveis de luxo.
Também faltou apresentar um plano de integração com as prefeituras e as outras áreas do governo estadual. Há anos militares entram e saem das comunidades, mas o Estado brasileiro continua ausente lá dentro em serviços básicos como saúde, habitação e assistência social. Combater esse vácuo de poder, defendem especialistas, é primordial para a decadência do crime organizado.
Apesar de tudo, talvez seja prematuro tecer críticas ao general Braga Netto e sua equipe, mas a convocação de uma coletiva pressupõe o detalhamento de medidas práticas. A apresentação do novo organograma e da equipe de intervenção poderia ter sido feita por nota à imprensa. Uma entrevista superficial não acalma a população e ainda gera um desgaste desnecessário a um trabalho que promete ser sério e responsável.