O Brasil já teve um grande líder popular antes de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele se chamava Getúlio Vargas e foi batizado pela política como “o pai dos pobres”. Ditador, governou o Brasil de 1930 a 1945, quando foi derrubado pelos militares que o apoiavam até então. Nesse período rolou sangue, prisões, mas também foi decretada a CLT – Consolidação das Leis Trabalhistas – e criou uma empresa estratégica, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Por isso, em 1950, ele voltou ao poder, desta vez, pelo voto popular.
A oposição da direita foi feroz. Desde o primeiro dia de seu mandato tentaram derrubá-lo. Tanto fizeram que Getúlio foi empurrado para a beira do precipício. Mas ele não se entregou e reagiu. Ele se suicídio denunciando seus algozes e seus propósitos. A população foi às ruas. As redações de jornais, porta vozes da direita, foram invadidas e depredadas. Na época, a UDN defendia as posições da direita com o aval de uma ala relevante do PSD.
A comoção popular deteve os planos da direita. Historiadores avaliam que esse episódio histórico – o suicídio – deteve por dez anos o golpe militar, que acabou ocorrendo em 31 de março de 1964. Esta reação popular também impediu que a UDN assumisse o poder e permitiu a eleição de Juscelino Kubitscheck. JK, para tomar posse, teve que superar tentativas de golpes militares.
Agora, em outras circunstâncias, vamos viver outra experiência envolvendo o legado de um líder popular. Estamos falando de Lula, que já foi condenado e que em breve poderá ser preso e impedido de concorrer nas eleições de outubro. Quando o presidente do Bolsa Família, e governante no período de maior prosperidade econômica dos mais pobres, o que acontecerá nas ruas? A população sairá às ruas em protesto? Quebrando tudo? Ou sairá às ruas festejando na Avenida Paulista? Ou, o que é mais provável, as duas coisas.
Se Lula for impedido de concorrer, o que farão os eleitores? Vão se dispersar, escolhendo os candidatos que já estão no balcão? Ou vão esperar pela orientação de Lula e votar naquele que ele apontar como seu herdeiro político. João Goulart assumiu a condição de herdeiro de Getúlio. Lula já tem um sucessor praticamente definido: o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
Nestes dias, a grande aposta que todos fazem é quanto a capacidade de Lula transferir seus votos ou de seu herdeiro incorporar, aos olhos dos eleitores, suas ações, suas propostas e seu legado. As torcidas estão aí todos os dias nos jornais. A pesquisa Datafolha publicada no dia 31 de janeiro de 2018 nos dá elementos iniciais para este debate. Ela diz, por exemplo, que 27% votaria sem pestanejar no candidato indicado por Lula. Outros 17% talvez votassem. Não é suficiente para ganhar uma eleição, mas serve para colocar esse candidato no segundo turno.
A mesma pesquisa revela que 31% responderam que votariam em branco ou nulo ou não teriam nenhum candidato, sendo que mais 4% não saberiam em quem votar. Os candidatos que mais se beneficiariam seriam Marina Silva (Rede), 15%; e Ciro Gomes (PDT), 14%. A direita viria depois: Jair Bolsonaro (PSC) 7% e Geraldo Alckmin (PSDB) 6%. A pesquisa Datafolha fornece as primeiras informações do que pode ocorrer, embora até outubro muita coisa possa mudar. Mas, desde já, façam suas apostas: Quantos votos Lula vai transferir para seu herdeiro?