Procura-se os 6%

O presidente Temer na Alemanha. Foto Rogério Melo/PR


Governo Temer
Ruim/péssimo: 70%
Regular: 22%
Ótimo/bom: 6%
Não sabe: 2%
Fonte: Datafolha

O governo Temer é uma tragédia épica. Em todos os sentidos. Político e moral – possivelmente o ponto mais grave -, institucional, social, fiscal, escolha a área que quiser. E não venha falar em recuperação da economia como se os dados pífios que se apresentam indicassem um rodízio de primeira. O que vemos não dá nem pra chamar de churrasquinho de retomada, mesmo com o cenário internacional convidando para o banquete. A taxa média de desemprego anual no Brasil subiu e a precarização das relações de trabalho – muito diferente de flexibilização, preste atenção – é visível. O brasileiro médio segue mais ferrado do que nunca.
O país tem hoje 13,2 milhões de pessoas sem emprego. As contas do governo registraram déficit primário de R$ 124,4 bilhões em 2017, o equivalente a 1,9% do PIB, segundo pior resultado da história. 2017 se encerrou com o aumento para 10% de pobres na população, cerca de 20 milhões de indivíduos, e 4,4% de extremamente pobres, aproximadamente 9 milhões de brasileiros.
Não ajudou o corte de benefícios de 1,1 milhão de inscritos no Bolsa Família em novembro de 2016 e o congelamento do benefício em 2017, na contramão das recomendações do Banco Mundial. Nem vai melhorar isso o aumento de 1,8% para o salário mínimo este ano, valor abaixo da inflação. A tábua de salvação, ostentam os futurólogos de plantão, seria um crescimento de 3% da economia em 2018, certeza reforçada pelas sempre imprecisas projeções do mercado.
Dito isso, procura-se os 6% de brasileiros e brasileiras que, respondendo ao instituto Datafolha, disseram considerar o governo de Temer bom ou, pasmem, ótimo. Onde vivem? O que fazem? O que comem? O que pensam essas pessoas? Seria um respeitável estudo antropológico checar quem são esses cidadãos, ainda que, pelo menos, verificassem sua pulsação. Podem ser o elo perdido para entender a crise brasileira.
Temer, que já posou de vice fiel, depois de interino perplexo, e, finalmente, de estadista, hoje tenta anabolizar sua popularidade de pires distribuindo dinheiro e frases desconexas no Silvio Santos, no Amaury Jr e no Ratinho, seguindo sua inexorável trajetória para o ostracismo total. Mal conseguia se eleger deputado, montou cavalinho nas costas da história para virar presidente e agora volta ao seu leito seco.
Tanto que, mesmo não tendo declarado que irá disputar a reeleição este ano, Michel Temer lidera o índice de rejeição de outra pesquisa Datafolha, sobre a corrida presidencial. Está lá, no levantamento, que 60% dos entrevistados declararam que não beberiam na fonte do peemedebista nem que fosse a última coca-cola do deserto. É uma rejeição muito maior do que o ex-presidente impichado Fernando Collor de Mello, que se atreveu a apresentar sua candidatura e encontrou um paredão de 44% de rejeição. Com esses números, não é que Temer não eleja sequer um poste, ele não emplaca um fio de alta tensão soltando faíscas.
Com um ano e oito meses de (des)governo, Temer tem, como era de se esperar, uma avaliação pior entre as mulheres (75%), Marcela persistindo como exceção, e entre os trabalhadores que ganham menos de dois salários mínimos (73%), os ferrados de sempre. No Nordeste, onde Temer é quase um alienígena, 80% consideram seu governo ruim ou péssimo. De 0 a 10, o desempenho de Temer à frente do governo até o momento tem nota média 2,6, com 43% atribuindo nota 0 ao presidente. Não passaria no Enem, nem colando. Temer, claro, seguirá em frente. Tem responsabilidades que o forçam a seguir adiante. Que responsabilidades? Pergunte pros 6%, ora.


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