Escrito por: Denise Chrispim Marin
Bom seria se, em seu último ano de mandato, o presidente Michel Temer pudesse afastar políticos oportunos de seu gabinete de ministros e optar por sucessores com perfil técnico. Não precisaria montar um gabinete de notáveis, mas pelo menos de pessoas idôneas que conhecessem profundamente os assuntos de sua pasta e que fossem menos vulneráveis ao desligamento momentâneo do cargo para votar no Congresso matéria de interesse do governo.
O presidencialismo de coalizão não ajuda muito na indicação de nomes consistentes para os ministérios, transformados em feudos partidários. A conjuntura do governo, pressionado a deixar como principal legado a aprovação da Reforma Previdenciária em fevereiro, tampouco ajuda. A tendência será de opções políticas que, com sorte, serão corrigidas depois da desincompatilização de boa parte do gabinete, até o final de abril.
Esse quadro é particularmente triste no caso do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que há muitos anos deve ao País um projeto consistente e moderno para estimular o aumento da competitividade e da produvitidade do setor manufatureiro e para melhorar do ambiente de negócios para os segmentos exportadores. O corpo técnico do MDIC acompanha as negociações comerciais, conduzidas pelo Itamaraty, como a que se espera ver concluída neste ano entre o Mercosul e a União Europeia, e está ciente da inevitável abertura do mercado brasileiro.
A conclusão de acordos comerciais tende a elevar as exportações e a melhorar o saldo em transações correntes do País. Têm igualmente potencial de inserir empresas nacionais nas cadeias produtivas internacionais e, portanto, de imprimir nos setores brasileiros a necessidade constante de manter alta produtividade e competitividade. Os argumentos em prol de uma abertura unilateral do Brasil continuam em circulação, sob os argumentos de que reduzirá os preços de bens vendidos no Brasil e forçará os setores produtivos a se tornarem mais competitivos.
Na ponta, o MDIC inevitavelmente lidará com a agonia de empresários acostumados ao elevado nível de protecionismo do País e aos incentivos fiscais. O ministério deveria já ter, no seu balcão, programas para estimular o aumento da competitividade das empresas nacionais. Até agora, somente é possível imaginar um futuro titular da pasta lamentando destruição de parte do parque produtivo nacional e correndo atrás de antigos artfícios para aliviar os setores.
A saída de Marcos Pereira, presidente licenciado do PRB, do comando do MDIC trouxe alguma expectativa de que um nome mais apropriado e sintonizado com os desafios do setor produtivo brasileiro pudesse ser a escolha natural para substituí-lo. Não há nenhuma base real nessa fantasia. A indicação de um nome não-político empenhado a preparar o setor produtivo para a perda de sua zona de conforto seria uma grande surpresa.
O governo tenderá a manter o MDIC como feudo do PRB do senador Eduardo Lopes (RJ), presidente interino do PRB e um dos articuladores políticos da Igreja Universal do Reino de Deus. Nesse caso, Temer tanto poderá alçar o atual secretário-executivo, Marcos Jorge de Lima, para o cargo de ministro-interino até o final do prazo de desincompatibilização. Pode também, como mencionou a Folha de S Paulo, nomear Guto Ferreira, atual presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI). Ferreira tornou-se especialmente conhecido por ter ter postado no Facebook um vídeo no qual declamava um “dos poemas mais famosos do país” ao lado de uma estátua de William Shakespeare, durante missão oficial na Alemanha. O poema era a letra da música “Tumbalacatumba”, do álbum da Galinha Pintadinha. Quem sabe, o presidente tenha outra opção.