O fato de o TRF-4 marcar para janeiro o julgamento da primeira condenação de Lula pelo juiz Sérgio Moro virou um quiproquó no arraial petista. Essa turma insiste que todo e qualquer procedimento em processo judicial contra Lula é pura perseguição.
Por essa narrativa, agentes públicos da Polícia Federal, do Ministério Público, da Receita Federal, do COAF, do Banco Central e juízes federais se uniram em uma conspiração contra Lula e o PT.
Nas redes sociais, entrevistas, discursos, manifestos, blogs aliados, repete-se à exaustão que a apuração da corrupção no país é seletiva. Lula e os petistas em geral teriam sido escolhidos como bode expiatórios da eterna roubalheira no país.
O problema dessa narrativa é a falta de conexão com os fatos.
Tem petistas graúdos, como Antonio Palocci, José Dirceu e João Vacari Neto, que foram parar na cadeia. Também foram parar lá caciques do PMDB como Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Sérgio Cabral, Jorge Picciani e Henrique Eduardo Alves. A cúpula do PR, PTB…
Por que estrelas tucanas como Aécio Neves não caíram na mesma rede?
Opção seletiva da Justiça, como apregoam os petistas e aliados?
Só vai para o xilindró quem caiu nas redes de juízes federais como Marcelo Bretas, Vallisney de Souza e Sérgio Moro. Nos recursos às instâncias superiores, uns escaparam, outros continuam presos.
Aécio e uma penca de políticos de quase todos os partidos, inclusive do PT, têm o tal foro privilegiado. É assim que conseguem driblar as investigações e adiar eventuais punições.
Desde o Mensalão, os tais tribunais superiores ciscam daqui e dali e pouco avançam. STF e STJ ainda não julgaram ninguém na Lava Jato.
Dizer que de uma hora para outra a Justiça se tornou seletiva no Brasil soa como piada. Desde sempre, a Justiça sempre foi seletiva no país. O que mudou é que uma pequena parcela dela, há pouco tempo, tirou a venda dos olhos e passou a também pôr na cadeia empresários, servidores graduados e políticos corruptos.
Virou um escândalo. Causou a ira das elites políticas, empresariais, corporativas e sindicais que, ao longo do tempo, se misturaram na defesa da própria impunidade. Brigam entre si, mas todos se unem quando se recusam a democratizar a Justiça no país.
Assim, no topo dessa pirâmide, quem continua a fazer a seleção do ritmo da Justiça é o foro privilegiado.
Simples assim.