Nesta quinta-feira respirava-se com fôlego de alívio na Câmara dos Deputados. O recuo do presidente Michel Temer e o conformismo de seu ministro da Fazenda, Henrique Meireles, com a redução pela metade da reforma da Previdência distencionou o clima de apreensão. Agora os parlamentares podem dizer que dobraram o governo e se apresentarem de cara lavada ante seus eleitores na próxima eleição. É o que todos pensam.
Enquanto o plenário da Câmara passava o dia no empurra-empurra da Segurança, o assunto da Previdência e suas consequências iam tomando o espaço político. E assim podem votar sem afrontar diretamente o presidente da República.
Nas conversas reservadas, isto é, sem publicar o nome do pensador, deputados e senadores, situação e oposição, admitem que a hora da verdade chegue. Os estadistas brasileiros, eleitos e nomeados, terão de enfrentar a realidade. Não há como fugir dessa máxima tão brega para formuladores tão sofisticados: gastar o que se arrecada. Simples, mas assustador como uma assombração.
Um desses parlamentares assombrados pelo paradoxo é o pré-candidato do PSDB ao Governo do Distrito Federal Izalci Lucas: O colapso do estado é um bicho tão feio quanto a derrota nas urnas. Entretanto, o instinto de sobrevivência indica que em política se vive um dia depois do outro. Assim, a reforma da Previdência é um obstáculo. Izalci atribui fracasso do projeto original do presidente, apoiado por seu partido naquela fase, à inabilidade dos marqueteiros do governo federal: “O governo perdeu na comunicação e na proposta inicial encaminhada parta as Câmara de forma radical e sem transição adequada. O texto apresentado e aprovado na Comissão não passa na Câmara”, conforma-se.
Na Argentina, nas últimas eleições, o programa de reformas do presidente Macri, mais duro que o brasileiro, tido como suicida e combatido sem tréguas pela oposição peronista, venceu nas urnas. A ex-presidente Cristina Kirchner foi eleita senadora. Mas isto não foi surpresa. Suas legendas, entretanto, tiveram uma derrota contundente. Se o efeito Orloff valer, o eleitorado brasileiro também pode oferecer uma surpresa. Quer dizer: o argentino está escaldado pelas crises sucessivas. Estarão os brasileiros também com as barbas de molho?
Neste sentido os candidatos ao executivo têm um problema. O exemplo do estelionato eleitoral é contundente no Brasil. A derrota dos grandes partidos, responsáveis pelo fracasso do Plano Cruzado, foi acachapante, com a vitória de Fernando Collor. A queda de Dilma Rousseff, que montou um governo antagonista a seu programa eleitoral, confirmou a regra. Por isto, os candidatos estão temerosos de assumir posições volúveis. Ganha e cai no inferno, vide os governadores José Sartori e Luiz Fernando Pezão.
Os candidatos a governos estaduais terão de olhar no olho do bicho, como comprova a declaração do aspirante do Palácio do Buriti Izalci Lucas em entrevista a Os Divergentes: “Temos de mudar o modelo. Tirar todos os privilégios. Encontrar uma forma, receita alternativa para recuperar o fundo e torná-lo viável. Fazer uma transição adequada. Aprovar uma reforma tributária e melhorar muito a aplicação de recursos públicos, que hoje são mal aplicados, desviados e sem controle”.
Esta solução é como tomar aspirina para dor de dentes. Passado o efeito… De que vale vencer uma eleição?