Revoada e prefeitos em Brasília. No apagar das luzes do velho orçamento e na disputa palmo a palmo pelas migalhas da nova LDO que vem aí, os administradores das pequenas e minúsculas comunidades dos confins do Brasil vêm em massa à capital cobrar as emendas do ano passado e pedir novas verbas orçamentárias para 2018. É este o jogo do poder político real no Brasil, lembra o deputado Alfredo Kaefer, do Partido Social Liberal do Paraná.
Kaefer é o exemplo clássico do que a grande imprensa chama de “centrão”, que os maldosos localizam no “baixo clero”, mas que compõe a engrenagem mais poderosa do sistema brasileiro, que ainda se compõe de governadores, deputados estaduais, chefes regionais de partidos e que tem, lá na ponta, os prefeitos e suas máquinas eleitorais. A emenda parlamentar é o lubrificante dessa caixa de transmissão. A geringonça está rodando.
Semana que vem Kaefer estará com o presidente Michel Temer para falar de suas emendas. A notícia correu e já há um enxame de prefeitos batendo à porta de seu gabinete. Essas emendas que a mídia apresenta maldosamente ao público como suborno é que constituem a verdadeira moeda eleitoral. “Não acredite que a internet vá substituir o olho no olho. Como nos negócios, é mais difícil dizer não frente a frente; também na campanha política as redes não tem o condão de botar o eleitor constrangido ao negar seu voto”, diz o parlamentar.
Kaefer está cevando seus prefeitos: um puxado de hospital aqui, um telhado de escola ali, um pontilhão acolá. É assim que funciona na sua base eleitoral, o noroeste paranaense, diferentemente das cidades grandes ou capitais. Este é o momento do prefeito. E a semente da reeleição do deputado.
“O voto ideológico”, diz o parlamentar, “é uma percentagem mínima dos deputados”, dando alguns exemplos como Miro Teixeira (Rede/RJ), “com 11 mandatos” – explica, ou os membros do PSOL. “No Paraná eu conto três, dentre os 30 da nossa bancada, eleitos só por suas ideias”, diz, justificando que mesmo com os progressos das redes sociais, a eleição será mesmo na sola do sapato.
O momento do parlamentar regional é agora. Passadas as votações das licenças para processar o presidente, a moeda do momento é o voto na reforma da Previdência. Questão de honra para o presidente da República, o deputado tem a seu favor os prejuízos eleitorais de aprovar um projeto que a mídia qualifica de impopular. Entretanto, pondera Kaefer, não é tanto assim: “Um voto a favor da reforma tira votos, mas não como se diz. O prejuízo é de eleitores poderosos, como funcionários públicos de alto escalão colocados em posições estratégicas ou de lideranças sindicais, que podem atrapalhar um candidato. Isto conta muito”, diz opinando que será feita uma reforma previdenciária parcial neste momento.
Entretanto, diz Kaefer, os deputados de todos os partidos sabem muito bem que o sistema não se aguenta. Por isto, na sua avaliação, a reforma completa será realizada entre 5 de outubro e 11 de dezembro do ano que, pelo atual Congresso em fim de mandato (Câmara e 2/3 do Senado).
Kaefer é um parlamentar típico desse bloco informe do chamado “centrão”. Originário do PSDB ficou sem espaço em seu estado, abrigando-se na legenda do PSL, hoje com três parlamentares na bancada (os outros são Damiana Pedreira, de Minas, e Luciano Bivar, de Pernambuco e presidente nacional do partido). A mídia chama de “legenda de aluguel”.
Entretanto, Kaefer está procurando reforçar as bases dos sociais liberais no extremo sul. Porém uma dificuldade com a secção do Rio Grande do Sul, pois seu líder gaúcho, Luís Carlos Ostermann, apresenta como massa militante os grupos das chamadas minorias, como LGBTs e outros, o que constrange o bloco do Paraná: ”Ostermann entende liberal com libertismo; nosso liberal é no econômico, não nos costumes”, ressalva Kaefer.