Michel, um Sarney sem bigode


Ninguém se espante se começar a avistar uma penugem preta a se insinuar debaixo do nariz do presidente Michel Temer. Será a confirmação real do bigode virtual que por ali já se instalou e vai ficando mais evidente a cada lance desses tempos pré-eleitorais. O bigode devidamente mantido preto do ex-presidente José Sarney. Vai-se construindo um quadro muito próximo daquele vivido por Sarney em 1989, na primeira eleição direta para presidente após o fim da ditadura e a redemocratização do Brasil.

Desde o início, Sarney sofreu problemas de legitimidade. Era um vice oriundo das forças conservadoras que apoiavam a ditadura que acabou virando presidente porque Tancredo Neves morreu antes de tomar posse. Graças principalmente a uma inflação galopante que descontrolou completamente as finanças do brasileiro, Sarney terminou seu governo com baixíssima popularidade. No último ano de seu governo, a inflação bateu o impressionante patamar de 1764,86%. Ou seja, a cada mês os preços de tudo mais que dobravam. Ninguém sabia mais o quanto as coisas custavam nem quanto de fato recebia de salário. Uma zona completa, pela qual Sarney pagou preço alto.

Na eleição de 1989, nenhum dos candidatos à sua sucessão queria estar associado a ele. Todas as campanhas eram de oposição. Sarney era um mero espectador do pleito. Mesmo Ulysses Guimarães, que era o candidato de seu partido, o PMDB, fazia pesadas críticas ao seu governo.

Ao mesmo tempo, talvez pelo fato de ter sido a primeira eleição após a ditadura, surgiu uma enxurrada de candidatos à Presidência da República. Nada menos que 13. Ia de Fernando Gabeira a Marronzinho, de Ronaldo Caiado a Leonel Brizola. Ao final, os nomes tradicionais da política deram vez a duas novidades, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e Fernando Collor, do PRN, que acabou sendo o vencedor.

Michel Temer sofre problemas de legitimidade, porque boa parte da população considera ter sido um golpe parlamentar o impeachment de Dilma Rousseff. Um misto de crise econômica, crise política e crise moral o tornam um presidente de baixíssima popularidade. E nenhum dos candidatos à Presidência que se apresentam quer colar seu discurso ao seu governo.

Seu PMDB não tem candidato à Presidência. Porque, depois de disputar com resultados pífios as duas primeiras eleições, o PMDB optou pela excentricidade: com ele, viramos o único país do mundo no qual o maior partido nunca disputa a Presidência. O maior partido aliado a Temer, o PSDB, tem. No momento, tem dois: o prefeito e o governador de São Paulo, João Dória e Geraldo Alckmin. E uma parte do partido, capitaneada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, prega que os tucanos deixem até o final do ano o governo Temer para disputarem a eleição sem ter compromisso com ele.

Ao mesmo tempo, vão pululando os candidatos. O PCdoB, eterno aliado do PT nas eleições, resolveu lançar na disputa Manoela D’Ávila. Temos um Luciano Huck fazendo o papel que em 1989 foi de Silvio Santos. No meio dessa turma de candidatos de todos os matizes, o mesmo Lula divide as principais preferências. Longe a essa altura de ser uma novidade. Ao seu lado, Jair Bolsonaro, uma versão brucutu de Fernando Collor, busca o seu PRN num tal de Patriota.

Já dizia um certo senhor barbudo que a história nunca se repete do mesmo jeito. Mas o bigode, é bom reparar se ele já não está aparecendo…

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