Ainda o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Um livro surpreendente. Um leitor desavisado, ao pegar um exemplar em algum lugar do País que não em Brasília, pensará que está lendo a obra de um historiador que vê os acontecimentos de 2016 em perspectiva. Entretanto, o livro de Luiz Carlos Azedo reproduz suas crônicas e análises produzidas no calor dos acontecimentos.
O autor acompanhou e narrou com tamanha precisão o dia a dia que mais parecem, visto de hoje, uma análise de fatos consumados e não o jornalismo dos tumultuados momentos da última queda de um governo desta república.
“O Impeachment de Dilma Rousseff – Crônicas de uma queda anunciada” é a recuperação do trabalho de um dos jornalistas mais completos do País. Azedo revela-se vários pontos acima da média dos comentaristas e analistas da imprensa, salvo algumas honrosas exceções.
O trabalho de Azedo demonstra que um leitor de jornal impresso atento da mídia pode estar bem a par dos acontecimentos. Neste caso, os leitores do Correio Braziliense tiveram essa oportunidade. Quem não viu e não leu o principal diário da capital tem, agora, a chance de recuperar como foram aqueles momentos dramáticos e com que lucidez o jornalista viu e narrou, passo a passo, o governo petista afundar-se em suas contradições e os erros de seus operadores.
Em resumo: é um livro notável. Azedo é um jornalista muito bem equipado, com sólida formação filosófica, de teoria política e histórica. Essa bagagem ele a utiliza com grande segurança, no calor dos acontecimentos, como fica demonstrado para o observador de hoje, vendo como a narrativa dava ao leitor do dia do Correio Braziliense uma informação correta do que estava se passando.
Para o leitor com formação ou leitura nos autores de vertente marxista, um atrativo a mais, pois Azedo vai botando aqueles fatos dentro do enquadramento político/filosófico. Originário do antigo Partidão, dentre sua variada experiência profissional em jornais de várias cidades do País, ele se qualifica como diretor-responsável do semanário “A Voz da Unidade”, órgão central do antigo Partido Comunista Brasileiro, o PCB, matriz da esquerda brasileira.
Como diz na orelha do livro Alberto Aggio: “A leitura das crônicas de Azedo não deixa dúvida de que o impeachment de Dilma está longe da chamada “narrativa do golpe”, construído pelos apoiadores do governo deposto”. Também o prefácio, assinado pelo atual senador do PPS, professor Cristovam Buarque, elogia a visão precisa de um profissional de elite que sempre acertava no centro do alvo.
Para dar uma ideia ao leitor da capacidade profissional e intelectual do autor, vamos reproduzir um trechinho do livro, escrito 10 dias antes da votação do impeachment, mas que parece o texto de um historiador vendo os acontecimentos depois de fatos consumados.
Escreve Azedo dia 14 de agosto: “O impeachment da presidente afastada, Dilma Rousseff, que deve se consumar a partir do dia 25, quando começará seu julgamento pelo Senado, encerra um ciclo de experimentalismo político e econômico de esquerda no Brasil, que se esgotou porque o projeto do ex-presidente Lula e do PT estava referenciado em ideias nacionais desenvolvimentistas e socialistas derrotadas historicamente no século passado, além de alicerçadas em práticas políticas pautadas pelo populismo, pelo fisiologismo e pela corrupção”. O governo Dilma, ele diz logo adiante tentou mudar o país com “capricho e ignorância”.
Editado pela Verbena Editora, com patrocínio da Fundação Astrogildo Pereira, o livro é uma visão de um marxista muito lido e a opinião de um jornalista sólido, concorde-se ou não com suas conclusões, as quais, por sinal, apenas ver se referiam ao dia presente. É este seu grande valor, pois dá uma credibilidade singular ao livro de Luiz Carlos Azedo.