Em vez de aliviado com a sobrevivência de Michel Temer, o establishment político começa a semana profundamente angustiado, quase em desespero, tentando explicar a resiliência do ex-presidente Lula, que emplacou 35% na primeira rodada presidencial do Ibope para 2018. Nada indica que este será o quadro daqui a onze meses, pois não há certeza sequer sobre a presença de Lula na cédula, mas, quanto mais o ex-presidente cresce e se consolida nas pesquisas, menos confortável fica a situação dos tribunais para cassar sua candidatura.
Alguns políticos e especialistas explicam o desempenho de Lula, e até o do segundo lugar, Jair Bolsonaro, com as viagens que ambos vêm fazendo pelo país, avivando sua presença junto à população. É duvidoso que isso tenha tido maior influência. Afinal, as viagens de Lula, embora bem documentadas nas redes sociais, têm tido baixíssima exposição na mídia tradicional, quase zero, por exemplo, nos noticiários da TV. O que se vê ali, com frequência, é um noticiário policial sobre depoimentos, recibos de apartamentos e denúncias contra o ex-presidente.
A confrontar esse raciocínio, há também o fato de que seus pré-adversários também estão viajando o Brasil – sem maiores efeitos. João Dória, por exemplo, parece ter obtido até efeito contrário com sua pré-campanha: não cresceu e até ficou menor do que Geraldo Alckmin, hoje o mais provável candidato do PSDB. Mas o governador também não tem situação tranquila nas pesquisas, embolado no pelotão que disputa o terceiro lugar e tem entre 6% e 7%.
Também não funciona muito aqui o argumento dos especialistas de que os adversários de Lula e Bolsonaro ainda são desconhecidos nacionalmente. Alckmin, afinal, já foi governador do maior estado do país três vezes e disputou uma campanha presidencial, que perdeu no segundo turno para Lula.
O jogo mal começou, mas tudo indica que a liderança de Lula nas pesquisas se deva, resumidamente, ao velho fator de sempre: da atual lista de postulantes à presidência da República, o ex-presidente é o único que fala com os pobres, contingente da população que andou aumentando nos últimos tempos de crise, desemprego e redução dos programas sociais da era petista.
A melhoria de indicadores econômicos como a inflação e os juros, e as indicações de que, vagarosamente, o país sai da recessão e volta a crescer, são como a água que começa a percorrer um longo, longuíssimo cano. Não se tem ideia de quando ela chegará à torneira, ou seja, ao bolso e à vida das camadas mais pobres da população. Enquanto isso não acontecer, o que vai valer para essa maioria, que chegou a ter o gostinho de sair temporariamente da pobreza, é a lembrança dos bons tempos, que se traduz por Lula na cabeça.