Quatro centrais sindicais (Força, Nova Central, UGT e CSB) reuniram, em São Paulo, dezenas de sindicalistas (dirigentes de confederações, federações e sindicatos filiados às diversas centrais) para um debate com duas expressões da esquerda, o ex-ministro Aldo Rebelo e o ex-secretário do Ministério da Fazenda e professor de economia da Unicamp Luiz Gonzaga Beluzo. Realizado no auditório do emblemático DIEESE, o evento respondia ao instigante desafio do título: ”Um Novo Brasil em Debate”. Em nome dos demais dirigentes das centrais, os painelistas foram saudados pelo presidente da Força Sindical e deputado federal Paulinho da Força.
O Brasil tem de voltar rapidamente ao desenvolvimentismo, entendido como reindustrialização, num projeto capitaneado pelo investimento estatal (não necessariamente estatizante), e focar sua ação inovadora em educação, ciência, tecnologia e combate à desigualdade.
Este é o resumo de uma receita apresentada pelos dois. A volta ao desenvolvimentismo, que foi o modelo dos governos de Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Lula da Silva, uma expressão que, segundo o professor Belluzzo, foi amaldiçoada pelos neoliberais do governo Fernando Henrique Cardoso. Nesse período dos anos 1990 a indústria brasileira diminuiu relativamente dentro da economia produtiva.
É o que ele chamou de desindustrialização. A ideia dessa nova esquerda é recuperar o parque industrial e acelerar os investimentos nessa área.
Nesse ponto o professor Belluzzo, olhando para a plateia de líderes sindicais, alertou que a nova industrialização que vem por aí terá de incorporar alta tecnologia e robotização, palavras que ainda assustam muitos segmentos do sindicalismo.
Rebelo, recordando sua passagem pelas pastas que cuidam de alta tecnologia, Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação e Ministério da Defesa, apresentou números expressivos e fatos recentes do retrocesso do país nessas áreas essenciais. Também o ex-deputado do PCdoB invocou o exemplo chinês de desenvolvimento científico e do sucesso de seu modelo econômico, baseado no investimento público, mas com forte participação do capital estrangeiro.
Beluzo criticou duramente a política financeira dos governos brasileiros, chamando atenção para o tamanho da dívida pública como um entrave ao desenvolvimento. Em sua opinião, um dos pontos fracos do sistema financeiro é a política comercial dos bancos privados, que se concentra na especulação dos mercados, com a captação de poupanças para repassar aos governos, alimentando a dívida pública, distanciando-se do financiamento à produção.
Foi um evento de grande porte no sentido de rediscutir os rumos do país, com a presença de lideranças das forças relevantes do cenário político e econômico, os trabalhadores sindicalizados. Outro detalhe: mesmo não havendo acordo ou restrição explícita, em nenhum momento se falou de nomes de lideranças ou da conjuntura. O debate concentrou-se em propostas para o futuro e apontar saída para a atual crise econômica.