Fato inusitado: um governador chegar a Brasília dizendo que está tudo bem. Em vez do pires do pedinte na mão, oferece progresso e prosperidade. As imagens dramáticas do começo de seu segundo governo ficam para o passado.
É com essa cara e com essa roupa nova que o governador do Paraná, Beto Richa, vai se apresentar terça feira ao meio dia para uma dúzia de embaixadores do Oriente Médio, numa churrascada no restaurante Rubayat, na orla do Lago Sul.
Nem parece Brasil, costuma-se dizer quando se visitam as pequenas e organizadas cidades coloniais no Paraná, que tanto se assemelham à Europa. Entretanto, a máxima agora vale para o próprio estado: orçamento ajustado, previdência equilibrada, funcionalismo em dia, fornecedores nos cronogramas, precatórios quitados, empréstimos nos prazos de vencimentos, o menor endividamento público do País e 7,6 bilhões de reais em investimentos. Em volume é o maior do País. Nem parece Brasil.
(Este número divulgado pelo governo paranaense refere-se ao valor total de recursos investidos, pois em relação à Receita Corrente a melhor posição é do Ceará, com 11,1%, enquanto o Paraná apresenta apenas 4%).
Com tudo isto, o diário econômico de maior prestígio no mundo, o Financial Times, de Londres, soltou um elogio ao governo de Curitiba e disse que é o melhor estado para investimento em todo o Brasil.
Esta parece uma crônica descabida num país com as contas públicas em frangalhos, governadores dando calote e prefeitos esfarrapados. Entretanto, aqui se fala de fisco equilibrado, orçamento em dia e elogios na imprensa econômica internacional.
Um governador reúne investidores para atrair negócios para seu estado. Até aí nada de novo. Entretanto se o mote para chamar seus convidados é a saúde fiscal do setor público já abre o olho do repórter. Aí tem notícia.
Este vai ser o desafio ao governador Beto Richa, do Paraná, que vai se apresentar como chefe de um governo totalmente equilibrado em suas contas. Parece uma imagem surrealista, como se o Paraná fosse um disco voador vindo da estratosfera.
Confirmaram presença no Rubayat os embaixadores da Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Israel, Irã, Kuwait, Líbano, Palestina, Catar e Turquia. Além de Richa, fala seu secretário de Fazenda, Mauro Ricardo Costa, que foi o autor do ajuste a partir de 2014. Costa é um financista público profissional, responsável pelo equilíbrio das contas dos governos de José Serra, em São Paulo, e de ACM, na Bahia.
Há poucas semanas, discretamente, Richa já testara sua nova imagem com os embaixadores dos países da União Europeia.
Na verdade, Richa ainda carrega o peso da imagem de seus primeiros momentos no seu segundo governo. Comeu o pão que o diabo amassou e foi o Judas da mídia, espancado por todos. Agora pode colher resultados, pois com as contas em dia contrasta com seus colegas que estão pagando seus pecados próprios e de antecessores.
Atrair investimentos é uma justificativa para um governador de estado aparecer neste momento em Brasília exibindo um governo equilibrado em meio a um caos político e administrativo generalizado. Chegar bem situado no último ano de seu mandato, sem reeleição, Richa se apresenta como o nome do sul, em concorrência com algum nome do Nordeste, a lembrança para um candidato à vice-presidência. Porque não um sulista? Esta é a pergunta dos tucanos de Curitiba.