Além da rotineira presença de Luiz Inácio Lula da Silva à frente qualquer que seja o cenário e qualquer que seja a nova denúncia surgida contra ele, há novidades importantes na rodada do Datafolha divulgada neste fim de semana. A primeira é o destaque a Marina Silva, da Rede, surgido depois que ela deu as caras no debate político, com o programa de seu partido na televisão, no mês passado. A segunda é a impressão de que está na definição dos votos de centro-esquerda que não são de Lula e do PT o resultado do pleito presidencial de 2018.
Se Lula puder disputar a eleição no ano que vem, se não tiver sua pretensão atingida pela Justiça, ele vence a parada em qualquer cenário, mostra a pesquisa. Com a presença de Lula, os cenários mostram Jair Bolsonaro (PSC) em segundo lugar. Mas não há aí novidade nenhuma. Isso já vinha demonstrando todas as pesquisas anteriores.
A novidade aparece quando se tira Lula do cenário. Nesse caso, quem aparece à frente é Marina. Sem Lula, é ela quem lidera. Em simulações sem um candidato do PT, ou mesmo quando no lugar de Lula entra como candidato o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad.
Mesmo nos cenários com Lula na disputa, Marina está bem perto de Bolsonaro. No cenário com o prefeito de São Paulo, João Dória, como o candidato do PSDB, Lula aparece com 36%; Bolsonaro com 16%, e Marina com 14%. Dória vem depois com 8%. Se é o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, o candidato do PSDB, o quadro mostra Lula com 35%; Bolsonaro com 17%, e Marina com 13%. Alckmin com os mesmos 8% de Dória.
Nesses dois cenários, não entrou na disputa Ciro Gomes (PDT). Quando ele entra, Lula segue bem à frente com 35%. Bolsonaro tem 17%. Marina tem 13%. Alckmim, 8%. E Ciro, 4%.
Quando Lula sai e não entra nenhum outro candidato do PT, Marina pula para 23%. Bolsonaro fica em 18%. E aparece Ciro Gomes (PDT) em terceiro, com 10%, empatado com Dória. Se o candidato é Alckmin pelo PSDB, o cenário sem Lula muda muito pouco. Marina tem 22%; Bolsonaro, 19; Alckmin e Ciro empatados com 10%. A presença de Ciro empatado com os tucanos reforça ainda mais a impressão de que é à esquerda que 2018 se define.
Curioso é que se Haddad entra como candidato do PT no lugar de Lula, ele pouco modifica o quadro. Carreia muito pouco dos votos que vão para o ex-presidente petista, deixando claro que esse voto não é exatamente uma opção partidária, mas fruto do carisma e do cacife individualmente conquistado por Lula. Com Haddad, Marina mantém os mesmos 22%. Bolsonaro fica com os mesmos 19%. Alckmin e Ciro ficam empatados com 9%. Alvaro Dias (Podemos) vem depois com 5%. E Haddad aparece com apenas 3%. Esse percentual de 5% para Alvaro Dias repete-se em todos os demais cenários mencionados antes.
Se aparecem juntos na disputa Alckmin e Dória, não é muito grande a diferença de cenário. Essa é uma possibilidade. Na disputa interna que hoje acontece no PSDB, há uma chance de Dória acabar mudando de partido. Nessa hipótese, Marina vence com 20%. Bolsonaro tem 17%. Alckmin e Ciro empatam com 9%. E Dória vem depois com 7%. Talvez o prefeito novidade de São Paulo não seja assim a sensação que se parecia esperar…
A entrada dos nomes hoje fora da política do juiz Sergio Moro e do ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa alteram, mas não muito, a coisa. Nesse cenário, Marina tem 17%. Bolsonaro, 15%. Sergio Moro vem depois com 9%. Alckmin tem 8%. Ciro, 7%. E Dória, 6%. Cai a votação em Alvaro Dias, que fica com 3% e perde para Joaquim Barbosa, com 5%.
Até 2018, é claro, muita água vai rolar debaixo da ponte. O que o Datafolha, nos cenários que simulou, parece demonstrar, porém, é que a tendência política por aqui, pelo menos até o momento, parece meio seguir o que se verificou em outras partes do mundo. A presença de Bolsonaro nos primeiros lugares em todos os cenários mostra o crescimento da direita radical, muitas vezes hidrofóbica. Mas ainda prevalece uma visão mais de centro e esquerda na sociedade. Não se pode ignorar o crescimento da direita, mas talvez esse crescimento ainda não tenha força para prevalecer. Mais ou menos como aconteceu recentemente na Alemanha com a nova vitória de Angela Merkel.