CPI a gente sabe como começa, não como termina – dizia sempre o correto e admirável senador Pedro Simon, naqueles tempos em que o Legislativo ainda desfrutava de um resto de credibilidade junto à opinião pública. É claro que já havia bandalheira, e muita, nas convocações e votações, inclusive em CPIs. Mas ainda se guardava algum pudor – diferentemente do que ocorre hoje, ao menos procuravam disfarçar e esconder comportamentos reprováveis.
Imagine-se agora, quando a gente já sabe como as coisas estão começando, e quando já começam mal. A recém-criada CPMI da JBS é o mais recente exemplo.
Formada por requerimento do senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO), e tendo muito provavelmente o deputado eduardista Carlos Marun como relator, a comissão tem basicamente um objetivo: moer a JBS dos irmãos Batista, a ponto de a delação de Joesley e seus compadres ser eliminada da face da terra, e triturar a Lava Jato.
O principal beneficiário seria o presidente da República – que esteve longamente com Ataídes no fim de semana e é um dos incentivadores da CPI – mas a estratégia une todos os parlamentares que foram, são ou serão alvo da Lava Jato. Afinal, precisam reduzir a pó a delação de Joesley. O próprio Michel Temer, inclusive, tem força hoje para enterrar denúncias no plenário da Câmara. Mas se verá diante da Justiça daqui a pouco mais de um ano, quando deixar o cargo. Até lá, tem que fazer apodrecer depoimentos e eventuais provas deles originadas.
Por isso, os integrantes da CPMI estão sendo escolhidos a dedo entre os mais fiéis governistas e os maiores adversários da Lava Jato. E, a partir desta terça, vai valer tudo: convocação (e intimidação) dos delatores, dos procuradores e, se deixarem, até do ministro do STF Edson Fachin.
Há quem veja, no horizonte, um claro risco de crise institucional.