A comunidade ligada à geologia, em São Paulo, está espantada com a velocidade e o poderio de mobilização dos segmentos ligados à Reserva do Cobre e Associados. Em dois dias, as forças contrárias à presença de intrusos indesejáveis na área torpedearam o envio à região de geólogos e equipes de pesquisa mineral para realizar uma primeira avaliação do que possa conter aquela área.
Foi um abafa. Mal o assunto foi detectado desencadeou-se uma ação fulminante. Qualquer pessoa que botar o pé ali procurando xeretar o que há lá dentro será um ilegal, sujeito às penas da Lei. Se for geólogo é pior, pois poderia estar a serviço de interesses inconfessáveis.
Nos meios profissionais ligados à pesquisa mineral, na capital paulista, há críticas contidas à intimidação do setor público e à debilidade da administração que propôs a mudança de status em partes da reserva para permitir um estudo de solo e subsolo da área.
Entretanto, não há mistério, segundo os geólogos. Levantamentos superficiais, realizados por satélites ou pela inteligência militar brasileira, indicam que nessa reserva há intensa mineração clandestina de nióbio, um metal ainda raro e de alto valor no mercado.
Na região, basta conversar com garimpeiros para saber que a reserva florestal está infestados de sítios de extração de minérios transportados para pontos de recepção no Brasil e no Exterior.
Foram anotados 23 campos de pouso operando irregularmente dentro da reserva. Como se sabe, o transporte aéreo em pequenas aeronaves é o meio de abastecimento e de escoamento da produção de garimpos no meio da selva.
A presença de funcionários do governo ou autorizados poderia desvendar a existência ostensiva de uma rede de tráfico, que tem uma ponta na mineração ilegal no Brasil e outra nos distribuidores e transformadores. Os compradores finais são fabricantes de bens de alto valor agregado, como fábricas de celulares, computadores, indústria espacial e outros.
A pesquisa oficial é uma grande ameaça aos traficantes. Aos consumidores finais seria interessante a mineração, pois a produção organizada baixaria o preço da oferta.
A produção regular de nióbio tenderia a inviabilizar outros centros de produção. Poderia se criar uma situação semelhante ao que foi Carajás no mercado de minério de ferro. A Vale do Rio Doce, então estatal, chegou à frente da concorrência a ocupou todo o mercado disponível para mais de um século. Com Carajás em produção não há estímulo econômico para novos investimentos vultosos no mundo. Isto pode se repetir com o nióbio, pois as reservas brasileiras, as maiores do planeta, acabariam com a especulação e inibiriam novos produtores.
Ou seja: quem está fora não entra (e quem está dentro fatura).
É um tema delicado e explosivo. Entre profissionais de geologia, em São Paulo, há receio de se expor, mesmo para comentários triviais. Essas pessoas estão escaldadas da avalancha que desaba quando se fala sobre Amazônia fora do figurino. As empresas não gostam que seus funcionários metam a mão nessa casa de marimbondos, dizem.
Neste sentido, qualificam de risível (alguns injustificadamente suspeitam) certas afirmações, como a de que se iria “extinguir” a reserva. Na verdade o propósito era uma mudança de status que dê condições legais para os geólogos da CPRM entrarem na área sem risco de serem presos como invasores, ressalvam.
O Ministério de Minas e Energia recuou velozmente e propõe um debate no Congresso. Será uma grande batalha, pois a mídia e a sociedade organizada vão atuar fortemente. Dificilmente o nióbio do Pará será legalizado e tributado.