Não é de hoje que o governo Michel Temer dá sinais de esgotamento, ainda que, paradoxalmente, a economia continue fornecendo sinais tênues mas contínuos de recuperação. Já escrevemos antes sobre o cafezinho frio. Agora, porém, dois fortes fatores entram em campo para antecipar o fim político inexorável, ainda que não cronológico:
1. A nova denúncia do PGR Rodrigo Janot, que deve ser apresentada entre os dias 8 e 13 de setembro. Continua muito provável que essa denúncia, agora por obstrução de justiça e organização criminosa, tenha o mesmo destino da primeira e seja rejeitada pelo plenário da Câmara. Apesar do noticiário sobre a rebeldia da base, as reclamações do Centrão por mais espaço e as exigências do PMDB, dificilmente a mesma receita não produzirá o mesmo resultado, com a troca de verbas e cargos por votos. Esse tipo de votação, porém, nunca é um passeio. Há um desgaste inevitável, com acusações pesadas na mídia, revelações constrangedoras e, sobretudo, a paralisação das atividades do governo e do Congresso. Quando tudo acabar, na melhor das hipóteses em vinte dias a um mês, já se estará no fim de outubro, a menos de um ano da eleição.
2. A campanha já começou, e não só porque o ex-presidente Lula está em caravana no Nordeste. A disputa fratricida entre Geraldo Alckmin e João Dória a cada dia ocupa mais espaço e, obviamente, não vai acabar bem nem para eles e nem para o Planalto. O inusitado movimento do sempre moderado Alckmin semana passada, quando admitiu abertamente a candidatura, foi respondido por Doria com a ousadia que lhe é característica. Além de dizer que não disputará prévias com o governador – e insistir no critério da melhor colocação nas pesquisas – o prefeito ainda admitiu a hipótese de sair do PSDB para ser candidato.
Nenhum governo, qualquer que seja ele, consegue sobreviver no comando das operações em meio a um tiroteio eleitoral dessa dimensão, envolvendo sua própria base. É quando todos começam a abandonar o navio e se jogar ao mar em busca de botes e salva-vidas.