Depois do programa exibido nesta quinta-feira (17), a sociedade brasileira continua sem saber onde foi que o PSDB errou. Há alguns dias, o partido exibiu nos horários comerciais da TV “teasers” (pequenas peças usadas para criar um suspense prévio sobre o que se irá anunciar) nos quais atores diziam que os tucanos tinham errado e precisam fazer uma autocrítica. Depois do programa, o único grande erro que ficou perceptível foi a decisão do presidente interino do PSDB, senador Tasso Jereissati, de orientar o conteúdo do programa na linha em que orientou sem combinar com o restante do partido.
Segue, assim, o PSDB sem saber se casa ou se compra uma bicicleta. Tasso orientou a realização de um programa extremamente agressivo, onde não aparece nenhum político, só atores, no qual parece dizer que o tal erro do PSDB foi não ter insistido na adoção do parlamentarismo, sistema de governo que é defendido em seu estatuto de fundação. E que, ao deixar de lado a defesa do parlamentarismo, o PSDB optou por dar apoio a um falso presidencialismo de coalização que, na verdade, seria um “presidencialismo de cooptação”, onde se pratica, conforme chega a ser dito com essas letras no programa, o “toma-lá-dá-cá” na relação entre o governo e os políticos.
Bem, traduzindo do “tucanês”, “presidencialismo de cooptação” nada mais é que fisiologismo. Ou seja, o programa do PSDB afirma que o partido apoia um governo fisiológico. Fala na admissão do erro e que ele poderia vir a ser sanado caso o país optasse pelo sistema parlamentarista. Só não diz o que o PSDB deve fazer agora. Vai continuar não apenas apoiando mas dentro de um governo que reconhece como fisiológico? Enquanto não se adota o parlamentarismo, vai tolerando o fisiologismo? Caso não se adote o parlamentarismo, não há nada que se possa fazer quanto ao fisiologismo?
O problema das respostas às perguntas acima foi que Tasso não as combinou com os demais tucanos. O ministro da Secretaria de Governo, Antonio Imbassahy, disse que o programa deixa a sigla numa posição “extremamente ruim e desconfortável”. O ministro das Relações Exteriores disse que foi “uma crítica vulgar, que deve ter levado o PT às gargalhadas”. E o ministro das Cidades, Bruno Araújo, disse que a propaganda é “injusta com a história do partido”.
Injusta ou não, a propaganda gera desconfortos para a história do partido. Se não inventou, foi Fernando Henrique Cardoso o grande nome a lapidar o modelo de coalização presidencial exercido no país, no qual, diante da imensa quantidade de partidos e da absoluta falta de consistência ideológica da grande maioria deles, o acerto costuma mesmo ficar longe de questões programáticas para ser feito em cima de outros interesses. Gera ainda maior desconforto quando se lembra que um dos maiores escândalos nesse sentido foi justamente a denúncia da compra de votos para aprovar a emenda constitucional que garantiu a reeleição de Fernando Henrique.
Ou seja, quando esteve no poder, o PSDB além de não estimular a aprovação de uma emenda constitucional aprovando o parlamentarismo, fortaleceu o presidencialismo garantindo a reeleição do presidente e se valendo dos métodos que o programa chama de “cooptação”. E hoje não apenas apoia como faz parte de um governo que, segundo o programa, vale-se dos mesmos métodos.
A essa altura, não se sabe se o programa é de Tasso Jereissati ou do PSDB. Ou, pelo menos, de quantos no PSDB. Não havendo essa unidade básica em torno de como lidar com o tal erro, se seguirá convivendo com o tal erro, como o partido levará adiante uma agenda que leve à possível adoção do parlamentarismo?
E, finalmente, um problema adicional: enquanto discute, como se vê, sem unidade que garanta convicção, uma jornada pela mudança do sistema de governo, como fará o PSDB para resolver quem será seu candidato a presidente em 2018, outro ponto em que não há unidade e em torno do qual se desenrola outra briga fratricida?
Enquanto o PSDB não sabe se casa ou se compra uma bicicleta, Lula sai em caravana pelo país liderando todas as pesquisas…