Como teaser, deu resultado. Teaser é um termo do jargão publicitário que significa a criação de peças que produzem suspense, expectativa, com relação a algo que será anunciado no futuro. Nas inserções que entraram no ar no horário comercial das TVs nesta terça-feira (8), o PSDB produziu um teaser no qual uma série de atores diz que o partido “errou” e que “não adianta pedir desculpas” quanto ao erro cometido. Nos anúncios, os tucanos não dizem qual foi o erro. Jogam a expectativa da resposta para o dia 17, quando vai ao ar a propaganda mais longa do partido.
Se a ideia era gerar expectativa, funcionou. Está todo mundo curioso para saber qual será o erro que o PSDB vai admitir ter cometido. O problema agora está no que os tucanos admitirão como erro e em qual solução irão propor. Se não for nada muito sério, ou se não corresponder a alguma mudança que, de fato, a sociedade espera e apoia, a expectativa será frustrada. E o teaser vai virar um tremendo tiro no pé.
Desde o dia em que Joesley Batista entregou as gravações da sua denúncia contra o presidente Michel Temer, o PSDB bate recordes naquela que os maldosos dizem ser a sua especialidade: subir em cima do muro. Como dissemos por aqui, não sabe se casa ou se compra uma bicicleta. Na votação na Câmara que negou a abertura de processo contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva, 22 deputados do PSDB votaram para barrar o processo e 21 foram favoráveis a que Temer fosse processado.
As primeiras especulações sobre o que estaria por trás do teaser iam, então, no sentido de que ele sinalizaria um futuro desembarque do PSDB do governo. Algumas das declarações dos caciques tucanos nesta quarta-feira (9) já frustram essa expectativa. O PSDB, provavelmente, não vai desembarcar do governo. Ter apoiado Temer não deverá, então, ser o erro admitido.
O erro tem relação, então, com as denúncias contra o senador Aécio Neves (MG). Ele retornou ao Senado mas não voltou ao comando do partido. Foi ele que errou? Mas qual foi o erro cometido? Aqueles menores que ele mesmo admitiu, de ter falado um monte de palavrões e impropriedades? Ou os erros maiores que o Ministério Público lhe imputa? Nesse caso, o PSDB vai rifar Aécio? Ele aceitará ser rifado?
Ou o partido vai admitir ter adotado de uma forma mais geral práticas irregulares, que estão no cerne das investigações da Lava-Jato, dentro de um processo que todos os partidos cometem, mas agora começará a propor e trabalhar concretamente para a mudança dessas práticas? Mas isso está combinado para as próximas campanhas de seus candidatos?
O erro tem a ver com os discursos iniciados ontem no sentido de que o partido agora trabalhará pela adoção do parlamentarismo? Bem, quando foi criado, o PSDB colocou a defesa do parlamentarismo como ponto programático. Está no programa do partido a defesa desse sistema de governo. O problema é que, na prática, o partido nunca avançou muito nisso – a não ser no momento da campanha do plebiscito de 1993, quando os tucanos ficaram a favor do parlamentarismo e perderam (a população preferiu seguir com o presidencialismo).
Se o erro está aí, então o problema estará no momento em que o partido situará o início desse erro. Porque certamente o melhor momento que o PSDB teve para defender o sistema era quando estava no poder, com Fernando Henrique Cardoso. O presidente do partido hoje, senador Tasso Jereissati (CE), defende que não seria necessário um plebiscito sobre o tema, mas apenas a apresentação de uma emenda constitucional. Quando presidia o país, o PSDB teria tido muito mais força que hoje para fazer aprovar uma emenda nesse sentido. Mas, em vez disso, apresentou uma emenda que reforçou o presidencialismo, permitindo ao presidente ser reeleito para mais um mandato. Em vez de professar uma redução do seu poder, com a adoção do parlamentarismo, Fernando Henrique, o tucano no poder, professou, defendeu e aprovou uma emenda que ampliava e reforçava o seu poder. Estará aí o erro do qual não dá para pedir desculpas?
Porque, aí, a admissão do erro acontecerá num momento em que parece ter se enfraquecido a tal polarização PT/PSDB que marcou as últimas eleições. A derrocada de Aécio com as denúncias contra ele o tiraram do páreo como alternativa nas eleições de 2018. Geraldo Alckmin ensaia-se como alternativa, mas não é um nome que hoje apareça bem nas pesquisas. José Serra, com problemas de saúde, nem demonstra disposição para entrar no páreo. E o prefeito de São Paulo, João Dória, não parece ter convencido ainda seu partido de que seja uma aposta no novo que pode dar certo. Desconhecido nos demais estados, ele precisaria trabalhar seu nome. Mas ainda trava uma batalha interna para se viabilizar.
Então, aí, o PSDB aposta na adoção de um sistema de governo que enfraquece o poder do presidente e o repassa para o Parlamento justamente no momento em que os cálculos eleitorais parecem enfraquecer a possibilidade de uma vitória nas urnas.
O parlamentarismo até pode ser uma boa solução para conferir maior estabilidade e retirar o país da crise política crônica em que parece viver. Desde que ele surja um dia na discussão sem ser uma panaceia para a cura de pequenos males de conveniência para um ou outro. Seja por medo da sombra de quem pode ganhar (Luiz Inácio Lula da Silva permanece à frente de todas as pesquisas), seja como caminho alternativo de quem perde a intimidade com as urnas.