Nesta nossa história brasileira que, em termos de crise, ama ficar se repetindo, o ministro da Fazenda, Henrique Meireles, parece começar a ganhar ares de Joaquim Levy. De forma bem semelhante, Meireles vai esbarrando em problemas parecidos com os de Levy, da mesma forma no momento em que o Congresso baixa pesado a Bandeira 2 no taxímetro com que roda para tentar livrar o presidente Michel Temer da crise.
Para quem não se recorda, Levy chegou ao Ministério da Fazenda como remédio ortodoxo do governo Dilma Rousseff quando não foi mais possível ignorar que a crise econômica batia pesado à porta. Chegou para acalmar mercados e realizar a política econômica recessiva que na campanha Dilma prometera que não faria. Mas a crise não era só econômica. Era também política. E, no conflito entre a forma de solucionar a crise política e a crise econômica, Levy rodou.
Levy começou a dançar quando Dilma colocou seu vice Michel Temer na função de coordenador político e ele puxou o então ministro da Secretaria de Aviação Civil, Eliseu Padilha, para operar os entendimentos com os parlamentares. Padilha tornou-se o “gerente do Posto Ipiranga”. Como na propaganda, era ali no “Posto Ipiranga” que os parlamentares encontrariam a solução para atender a todos os seus desejos.
O problema é que os desejos dos políticos custam caro. E quanto pior vai ficando a situação do presidente, mais caros ficam. Os parlamentares reclamavam que Levy segurava a liberação dos seus desejos, Levy desgastava-se, e acabou caindo. No debate interno, Levy trombava com o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que acabou por substituí-lo.
Hoje, Meireles é a trava de segurança que empresários e mercado financeiro esperam dentro do governo. Da mesma forma, começa a sofrer questionamentos no momento em que a crise política aperta os calcanhares de Michel Temer e os desejos dos políticos ficam mais caros. Da mesma forma, tromba com o ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira. Da mesma forma, ideias e projetos vão e voltam ao sabor das reações. Agora, aumento no imposto de combustíveis, programa de demissão voluntária de servidores, etc.
Como essa irritante repetição da crise crônica brasileira nunca retorna exatamente do mesmo jeito, mas com nuances diferentes, os destinos finais de Meireles e de Temer poderão não ser os mesmos de Levy e Dilma. Meireles é provavelmente hoje mais forte do que era Levy como garantidor de certas políticas que empresários e mercado financeiro esperam. Ambos chegam mesmo a ventilar que é mais fácil Meireles permanecer que Temer.
Por outro lado, Temer é muito mais habilidoso no jogo da pequena política do que era Dilma. Ele mesmo durante anos vendeu facilidade no comando do PMDB para as dificuldades que se criavam. No esforço para sobreviver, paga a conta da Bandeira 2 do taxímetro dos políticos. E a transfere para a sociedade. Ok, fica assim com somente 5% de aprovação, mas vai seguindo.
Outro aspecto que precisa ser considerado é se havia mesmo na época de Dilma uma disposição sincera do Posto Ipiranga para resolver os problemas, num momento em que Temer já olhava de soslaio para o seu guarda-roupa imaginando qual o terno que combinaria mais com a faixa presidencial na foto oficial. Agora, “sob nova direção”, o Posto Ipiranga atende em ritmo intenso.
Nessa queda de braço, pode acabar sobrando para Meireles somente a possibilidade de aprofundar a recessão para a sociedade enquanto se paga a conta pesada exigida pela classe política. Classe política que, para manter o taxímetro na Bandeira 2, tende a sustentar Temer vivo, mas na frigideira. Na crise que não termina, fica difícil o clima para votar as reformas pretendidas. E assim vai-se seguindo…