Na quinta-feira (20), dentro do avião que a levaria para o ato em São Paulo contra as reformas propostas pelo governo Michel Temer e em defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) virou alvo das agressões de um outro passageiro. O tal passageiro a abordou dizendo que o “PT acabou com o país”. Gleisi respondeu que estava chegando em São Paulo para cuidar dos 14 milhões de desempregados que o governo Temer gerara. Iniciou-se aí a discussão. Gleisi chegou a ser aconselhada a chamar a polícia. Mas o avião já havia pousado em São Paulo, e ela saiu sem prestar queixa. O relato acima foi feito por Bruno Góes na coluna de Lauro Jardim em O Globo.
Na terça-feira (18), o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) foi hostilizado na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), chamado de “golpista” por ter votado a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e da reforma trabalhista, e se viu obrigado a cancelar o lançamento do seu livro “Mediterrâneos Invisíveis”.
Em maio, no dia em que chegou ao prédio que escolheu para morar em Brasília depois de liberado da prisão, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi recebido por um agressivo grupo de manifestantes. Seu carro foi recebido com chutes na lataria ao se dirigir à garagem e a polícia chegou a soltar uma bomba de gás para evitar o tumulto. O fato de Dirceu depois ter conseguido ir pacificamente a uma festa junina do colégio da sua filha chegou a ser saudado como um gesto de retomada da civilidade. Mas, a julgar por episódios posteriores como os dois descritos acima, foi somente uma exceção a confirmar a regra.
Os seguidos lances em que um grupo agride um representante do outro grupo nessa guerra de torcidas que virou a política brasileira se repetem. Vão aprofundando o momento de não diálogo, de intolerância, em que vamos vivendo. Difícil imaginar que essa seja mesma a melhor escolha para a maioria da sociedade brasileira.
Há alguns dias, assessores do PT no Senado comentavam que poderia ter havido espaço para alguma negociação na reforma trabalhista. Comentavam também que no episódio da tomada da Mesa do Senado por senadoras, não se pensou uma estratégia de saída daquela situação. Ou seja: quando o movimento acabou, foi-se para uma votação na qual a derrota foi total. Se prevalece o entendimento de quem se opõe à reforma, derrota total da classe trabalhadora.
Há alguém no quadro de pretendentes ao Palácio do Planalto que se notabilizou a vida toda pela opção pelo não diálogo, pelo aprofundamento de preconceitos e intolerâncias, pelos elogios que faz aos tempos em que não havia democracia no país. Seu nome é Jair Bolsonaro. O campo da intolerância é o preferido para ele e seus seguidores. Será o melhor para outros candidatos?