Se não surgirem fatos novos, parece inegável que o presidente Michel Temer deu uma acalmada no maremoto que o ameaça desde que o irmão Friboi Joesley Batista entregou para a Justiça a gravação da conversa que teve com ele na sua sorrateira entrada no Palácio do Jaburu. Não que ele já tenha conseguido transformar o maremoto em marolinha. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, tem certamente outras ondas reservadas para enviar. Mas, no momento, tudo indica que Temer entrará no período de recesso parlamentar com seu oceano político mais pacífico.
Comentamos por aqui outro dia que Temer e Lula trabalham as suas crises com as armas que têm. Somente os muito ingênuos e os muito mal intencionados podem interpretar isso como uma tentativa aqui de comparação dos dois casos do ponto de vista das acusações que há contra um e outro. O que se compara aqui são as possibilidades de estratégia, dadas as características de cada personagem e dos seus partidos.
Lula e o PT têm a seu favor a popularidade. O ex-presidente lidera todas as pesquisas de intenção de voto para 2018. Tem taxas altas de rejeição, mas outros políticos também as têm. E nenhum outro reúne a seu favor exército tão grande. E tão organizado e articulado. Característica aí do PT que é, sem dúvida, o partido de maior militância organizada. Junto com o trabalho de seus advogados, que reforçarão o fato de que não haver um documento que comprove cabalmente que a propriedade do triplex do Guarujá é dele, Lula trabalhará a força dessa militância, inclusive a forma como ela bem se organiza nas redes sociais, para minar os argumentos do juiz Sergio Moro e da acusação.
Já no caso de Temer, sua principal característica – e a do PMDB – é a capacidade de fazer política no varejo. De resolver suas questões congressualmente. E, aí, sem nenhum pudor no uso das ferramentas que os políticos preferem para resolver tais questões: liberação de verbas do orçamento, cargos no governo, etc. O Congresso roda na bandeira 2, mas isso certamente não surpreende Temer. Quantas vezes ele, no comando do PMDB, não botou seu partido a rodar na bandeira 2 nas negociações com outros governos?
Bem além da questão da eventual movimentação de políticos do PSB para o DEM, o encontro de terça-feira (18) entre Temer e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, é parte da construção desse tempo de calmaria. Maia não deixará de sonhar com o lugar de Temer. Mas sabe que, no momento, como anotou Helena Chagas, as circunstâncias o afastaram um pouco da cadeira.
Voltando à comparação das armas de que dispõem PT e PMDB, essa capacidade no trato do Congresso e dos seus interesses foi um dos fatores que faltou à ex-presidente Dilma Rousseff. Como tinha faltado a Fernando Collor. De novo, não há aqui qualquer comparação de casos e biografias. Mas, bem além dos desejos românticos da militância, há a realidade do jogo político. Se Michel Temer irá escapar ou não, impossível saber. Mas hoje ele joga seu jogo. Com armas de que não dispunham Dilma e Collor quando se viram em situações parecidas.