O deputado Rodrigo Maia já esteve, há alguns dias, bem mais perto da cadeira de presidente da República do que está hoje. Maia viabilizou-se junto ao mercado e chegou a animar parte do establishment, que o considerou viável para a aprovação de reformas. No plano político, que é o que importa de forma mais imediata, porém, há sinais de que vai ter que tomar ainda algum Nescau para chegar lá.
Ainda que à base de troca de deputados, liberação de recursos e outros instrumentos fisiológicos, a vitória de Michel Temer na CCJ tem seu peso político. Não garante o sucesso da metodologia no plenário, mas livra o governo da sensação de fim irreversível que teria tomado conta do ambiente em caso de derrota na Comissão. Claro está hoje que a oposição não avançou na estratégia de conquistar os 342 votos anti-Temer no plenário, assim como o governo não tem maioria para encerrar o assunto. Esse 1 X 1 pode durar indefinidamente, e a inércia tende a manter Temer no cargo.
Soma-se a essa percepção a declaração de ontem do PGR Rodrigo Janot, lá dos EUA, de que não tem pressa para apresentar a nova denúncia contra Michele que o fará quando tiver elementos para isso dados pelas investigações. Não chega a ser um recuo, mas é um possível aviso aos navegantes de que as delações de Eduardo Cunha e Lucio Funaro estão demorando mais do que se pensava.
E essa é a única circunstância em que o tempo corre a favor de Temer, quem sabe fazendo chegar a data da troca na PGR antes de Janot ter os elementos de que precisa para denunciar o presidente de forma consistente por obstrução de Justiça. Há quem diga que se trata de uma manobra diversionista do procurador, e que a qualquer momento ele poderá sacar da nova denúncia e fazer uma surpresa. E também ninguém garante que sua substituta, Raquel Dodge, também não fará a denúncia se ela sobrar em suas mãos.
Como em todas as crises graves, com pacientes na UTI, vive-se um dia de cada vez. Mas o eletrocardiograma de hoje mostras sinais vitais de Michel Temer mais fortes.