Veio forte, e na direção que se esperava, o relatório do deputado Sérgio Zveiter, do PMDB do presidente Michel Temer. Com esperteza, Zveiter foi claro ao dizer que a denúncia não é inepta e que há indícios sérios que justificam o recebimento da denúncia, mas evitou botar o carro na frente dos bois e antecipar julgamentos e culpas. Referiu-se à gravação, ao encontro à noite com Joesley e ao comportamento de Rocha Loures como acusações graves para dizer que a Câmara não pode silenciar e que a apuração dos fatos é necessária. E isso basta para afastar o presidente da República.
Do ponto de vista do convencimento jurídico – ele está dizendo que o presidente precisa ser investigado e julgado, mas não que é culpado – ficou nos limites. Política e midiaticamente, porém, a apresentação do relatório Zveiter é extremamente danosa a Michel Temer. As palavras do deputado vão ser reproduzidas infinitamente, suas imagens viralizadas e multiplicadas milhões de vezes.
Na ponta do lápis, Temer e seus articuladores, que já substuíram mais de uma dezena de deputados da CCJ para evitar uma derrota, podem até derrotar o parecer do relator na quarta-feira. Quem sabe até também no plenário, se a votação for na semana que vem e a oposição não conseguir reunir 342 votos para autorizar o processo contra o presidente.
Mas, como todo mundo sabe, política não é aritmética. Já vimos outros presidentes caírem e sabemos que nunca é por causa de um voto a mais, outro a menos. Geralmente, é de cambulhão, num vendaval que varre o plenário, soprado pela opinião pública. O efeito maior do parecer de Sérgio Zveiter parece ser o de dar concretude a uma iniciativa que era só do procurador geral da República. Agora, ganha a paternidade de uma grossa fatia de deputados – ainda que não os 342 suficientes – e estará a cada dia mais na boca do povo. O vento vai engrossar, na semana que vem ou nas próximas.