De uns dias para cá, a crise política começou a tomar ares de conflito institucional. Nesta manhã de sábado, tivemos mais uma indicação disso. Na capa da revista Veja, a informação de que o Planalto, em guerra para manter Michet Temer no cargo, colocou a Abin no encalço do relator do inquérito que o investiga no STF. Edson Fachin.
Apesar de um desmentido do Planalto, divulgado ainda ontem à noite, a notícia é tão grave que a presidente do STF, Cármen Lúcia, respondeu com dura nota hoje pela manhã. Pelo sim, pelo não, disse que, a se confirmar essa informação, trata-se de um “gravíssimo crime” contra o STF e a própria democracia.
Michel Temer ligou para Carmen Lucia negando a informação. Mas as desculpas vêm tarde demais, na sequência de uma série de notícias e notas plantadas por interlocutores do Planalto contra Fachin. Entre elas, o fato – que não é ilegal -de o ministro, antes da aprovação de seu nome pelo Senado, ter tido a ajuda do e executivo e hoje delator da JBS Ricardo Saud para pedir votos aos senadores. A esse enredo, a matéria de Veja acrescenta a informação de que a Abin estaria apurando uma carona de Fachin no jato da empresa.
Com ou sem desmentidos, o fato é que, acuado, o Planalto entrou num jogo pesado contra seus adversários, que além de Fachin incluem o PGR Rodrigo Janot, a JBS e todos que ameaçam seu mandato. Está, por exemplo, recorrendo um arsenal de iniciativas dos órgãos do Estado para promover um cerco à empresa delatora.
Ao reagir de forma dura, Carmen Lúcia acena com o risco concreto de choque entre os poderes. Mostra, sobretudo, que o STF não tem medo de Temer e está disposto a ir até o fim na investigação contra ele. E que a ameaça ao ministro Fachin pode ter o efeito contrário ao pretendido, unindo uma maioria no Supremo a seu favor.
Moral da história: a ofensiva do Planalto contra seus acusadores pode acabar se revelando mais uma operação Tabajara do governo Temer.