Em um seminário sobre comunicação promovido nesta quinta-feira (8) no Hospital da Criança de Brasília, a jornalista Graça Ramos relatou uma experiência que ajuda um pouco a entender como a vida brasileira transformou-se nesse imenso filme de tribunal cujas cenas atuais desenrolam-se no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um filme de tribunal, diga-se, que não tem o Henry Fonda de “Doze Homens e uma Sentença” como protagonista, mas Gilmar Mendes, entre outros.
Mestre em Literatura e doutora em Artes, Graça Ramos hoje anda mais envolvida com o mundo dos livros e das pinturas. Mas jornalista experiente, ela participou de um processo no Ministério Público a partir do qual se reestruturou o modelo de comunicação. Por esse processo, conforme o seu relato, a instituição passou a compreender melhor como se comunicar nestes tempos atuais de supervelocidade na propagação das informações, pelos diversos meios, formais e informais, que pululam hoje.
À frente da Escola Superior do Ministério Público, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, incluiu na formação dos procuradores estratégias e posicionamentos para enfrentar essa nova realidade. Estratégias e posicionamentos que hoje fazem parte da forma como atua, por exemplo, a força-tarefa da Lava-Jato. Entrevistas, declarações, posicionamentos, posicionamentos mesmo em palestras e outros eventos. Tudo dentro da certeza de que, no mundo de hoje, tudo o que se faz, tudo o que se fala, de alguma forma fica registrado e reverbera no mundo.
Isso que Graça viu ser formatado no Ministério Público aconteceu também na Justiça. Ficou da mesma forma no passado a ideia de que “o juiz só fala nos autos”. O juiz fala o tempo todo de diversas formas como a sociedade. Fala inclusive nos próprios julgamentos. Nos tribunais superiores, transmitidos ao vivo pela televisão, caso deste julgamento agora no TSE.
Na sua exposição, Graça Ramos avalia que todos nós ficamos um tanto quanto aturdidos de começar a acompanhar dessa forma explícita esse mundo da Justiça que até então não nos era comum. Graça não disse, mas na verdade a própria Justiça – e o Ministério Público – talvez de certa forma fiquem um pouco aturdidos também nessa adaptação aos novos tempos. No caso da Justiça, há muito já ficou patente que as altas Cortes estão longe de ter realmente aquele ambiente asséptico e formal que as togas pretas fazem supor. O que tem saído das declarações dos “Sete Homens e uma Sentença” hoje reunidos no TSE é de muitas vezes fazer corar o deputado mais rastaquera no mais reles pinga-fogo da Câmara. Nessas cenas de Judiciário explícito, melhor às vezes tirar as crianças da sala…