É no momento em que consegue respirar um pouco mais aliviado, vendo o foco mais recente das investigações dos escândalos cair sobre seus adversários, como o presidente Michel Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), que o PT inicia nesta quinta-feira (1) seu 6º Congresso Nacional. A julgar pelas declarações já surgidas e pelas atitudes dos últimos dias, o PT fará seu congresso olhando para trás para definir o que pretende fazer à frente.
Estão de volta palavras de ordem como “Diretas Já” e discursos que falam da necessidade de o partido optar por um caminho que leve à retomada das conquistas sociais e a um governo de esquerda, muitos arriscando mesmo em falar em “socialismo”. Como reação ao crescimento do discurso conservador e de direita, recrudesceu entre os petistas a defesa de suas origens esquerdistas.
Nos estertores da ditadura militar, quando surgiram e começaram a crescer os movimentos por eleições diretas, o PT foi um dos protagonistas, embora nunca tenha sido ator isolado. Na organização das primeiras manifestações, ainda bem pequenas, em Abreu e Lima (PE) e Goiânia (GO), era mais forte o patrocínio do PMDB, partido do autor da emenda que retomava as eleições diretas para presidente, Dante de Oliveira. Mas, depois, sem dúvida, ainda que sempre ao lado dos demais líderes dos demais partidos de oposição, o PT foi ganhando destaque.
Quando a emenda Dante de Oliveira foi derrotada, e o PMDB passou a articular a solução pela via indireta, pelo Colégio Eleitoral, da eleição de Tancredo Neves, o PT assumiu a posição que o destacou dos demais, resolvendo que não participaria do arranjo. Não votou em Tancredo, e ainda expulsou três de seus deputados (Beth Mendes, Airton Soares e José Eudes) que desrespeitaram a orientação. De novo agora, o PT já avisa que não participará de nenhuma eleição indireta caso Michel Temer caia (de acordo com a Constituição, a essa altura, já próximo o final do governo, caso Temer não termine seu mandato, o que se prevê é uma eleição indireta de alguém que completasse o curso até as próximas eleições presidenciais, marcadas para outubro do ano que vem).
Tanto em 1985 como agora, o PT avaliava que seus votos não eram determinantes para o acerto político que se fazia. E que a sua participação em qualquer negociação seria periférica. Assim, avaliava na época, e avalia agora, que pode ficar de fora para marcar posição e se diferenciar.
Vai, assim, o PT buscando nas imagens do passado, quando foi peça determinante na construção da redemocratização do país, algum cenário para a sua própria reconstrução. O problema, porém, é que, a essa altura, o PT não é mais o mesmo partido que era na época. Não se trata mais somente de uma agremiação surgida de movimentos de esquerda e de setores da sociedade civil propondo um novo modelo e uma nova estratégia de esquerda para se contrapor aos modelos e estratégias que ficaram ultrapassadas dos partidos comunistas e socialistas tradicionais. O PT é agora um partido grande, que experimentou ser governo e que, nessa experiência, acertou e errou, falhou e obteve êxitos.
Nessa busca de retorno às suas origens, precisará ter o PT o cuidado de não parecer apenas uma velha senhora que resolva voltar a usar minissaia imaginando que essa opção a fará rejuvenescer por milagre. Como partido a ficar por mais tempo à frente do poder na história da República brasileira, o Partido dos Trabalhadores carrega as suas muitas rugas. E já não tem mais como escondê-las.
Mesmo com relação a como se dará o processo de escolha de um sucessor de Michel Temer, caso realmente o desfecho dessa crise seja a saída do presidente, o PT não é mais hoje um partido de apenas oito deputados e nenhum senador, completamente periférico no cenário do Congresso Nacional. Assim, há hoje um discurso público, para a plateia, de não participação da eleição indireta, e uma prática na realidade na qual o comandante petista, o ex-presidente Lula, autoriza, sim, os parlamentares do partido a participarem das conversas em que se busca uma solução para a sucessão de Temer.
Em outro caminho, se prevalecer no novo PT uma opção por adotar agora um discurso mais à esquerda, vai precisar o partido explicar por que, então, seguiu o caminho oposto desde aqueles tempos das Diretas Já. Na busca por se tornar perspectiva de poder, o PT foi amenizando seu discurso paulatinamente. Até a construção do “Lulinha Paz e Amor” de 2002, aliado do empresário José Alencar, então no PL, engatada a “Carta aos Brasileiros” na qual assegurava que não faria mudanças importantes na política econômica, com o hoje ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, como presidente do Banco Central. Se vencer no PT a opção por uma defesa mais veemente de certo “socialismo”, vai precisar o partido explicar por que não fez, então, essa opção no momento em que mais podia, ou seja, quando foi escolhido pela população para governar o país.
Entre o rejuvenescimento real e a plástica fake, sempre há a possibilidade de amadurecimento digno. Que caminho seguirá o PT, saberemos um pouco daqui a três dias.