Se o mês é de Lula, como disse ele mesmo no depoimento ao juiz Sérgio Moro, a semana que começa é de Antonio Palocci – ainda que, pelo ritmo padrão das negociações da Lava Jato, ainda vão transcorrer semanas, ou até meses, até que se conheça o conteúdo de sua provável delação premiada. Mas a semana é de Palocci porque chegou ao grau máximo a preocupação com o que o ex-ministro poderá dizer, e não só entre petistas, mas principalmente no governo.
Aliados do Planalto estão bastante apreensivos com a negociação de Palocci com o Ministério Público e com as possíveis consequências, para a economia, de uma delação envolvendo pesos-pesados do sistema financeiro e mega-empresários de setores ainda não mencionados na Lava Jato. Pior: temem que os depoimentos do ex-ministro tragam à baila nomes ligados ao atual governo e até integrantes do primeiro escalão.
Quem Palocci pode citar? Por exemplo, o ministro Henrique Meirelles. Muita gente ficou com a pulga atrás da orelha com as afirmações de Antonio Palocci a Sérgio Moro sobre ter sido procurado por um importante representante do setor bancário, a pedido de um integrante do primeiro escalão do então governo Lula II, para tratar da captação de recursos para a eleição de Dilma I. Neste domingo, a coluna Painel, da Folha, reforçou temores em Brasília com a informação de que Palocci anda prometendo falar também sobre Receita Federal e Banco Central – que era chefiado na época por Meirelles.
Ainda que, por tudo o que se sabe, Meirelles não tenha tido papel decisivo nas campanhas petistas, o simples risco de ter seu nome mencionado – mesmo sem qualquer prova – já representaria um tremendo estrago na economia. Nesse momento delicado, em meio à luta pela aprovação das reformas e de um tremendo esforço para resgatar a credibilidade fiscal, Meirelles tem tido um papel de âncora. Seu enfraquecimento pode botar tudo a perder – e, nesse caso, tudo é tudo mesmo para o governo Temer.
É por aí que, apesar da caminhada resoluta de Palocci rumo à delação, há quem aposte que sua defesa não deve retirar o pedido de habeas corpus que tramita no STF. Jogado pelo relator Edson Facchin para o plenário para escapar aos impulsos libertadores da segunda turma, o HC tem poucas chances de ser concedido. Mas a esperança é a última que morre – e não só para Palocci.