Ao fim e ao cabo, quem era Lula continua Lula, e quem era Moro continua Moro. Estou longe e não vi as cinco horas de vídeo do depoimento, só alguns trechos. E me parece que há, neles, material midiático para os dois lados. Se Moro conseguiu levar Lula a admitir ter se encontrado, sim, com Renato Duque depois de deflagrada a Lava Jato para perguntar de contas no exterior – afirmação largamente explorada pela mídia -, o ex-presidente também estrelou momentos que podem ser usados a seu favor.
Afinal, Lula disse ao juiz, na chincha, que as delações da Lava Jato só são aceitas quando o acusado concorda em falar dele, chegando a se referir ao “mês Lula” – e é previsível que esse trecho se espalhe pelas redes e meios de comunicação ligados ao PT. A corrida agora é para ver quem utiliza mais, e melhor, os vídeos e suas narrativas na conquista dos corações e mentes de quem não faz parte de nenhuma das duas torcidas.
Só que não vai ser fácil, pois essa história impregnada de passionalismos já tem final decidido. O vencedor, à primeira vista, é Moro, que vai condenar Lula. Só resta saber quando. Mas, se o fato de o juiz ter virado parte nesse duelo não lhe tira a prerrogativa de julgar e sentenciar, a inegável politização do processo poderá beneficiar o ex-presidente.
A vitória para Lula, hoje, não é ser absolvido – porque sabemos que não será. Mas poderá ser uma demora no julgamento da segunda instância, pelo menos o suficiente para que sua candidatura seja oficialmemte lançada para 2018. Ou, no caso de uma provável condenação em segunda instância, poderá vir pelas mãos do STF, sob a forma de alguma ação suspensiva que lhe permita concorrer à presidência.
Tudo vai depender do ambiente social e político que se criará. Afinal, o verdadeiro juiz disso tudo não está nem em Curitiba e nem em Brasília, mas nas ruas.