O barato da democracia é a própria democracia. Nasceu nas ruas e é ali que, em todos os quadrantes, sobrevive até hoje. Ouvi-las é sempre bom. Ruim é quando são silenciadas.
A política é a arte de seduzi-las.
Quem as encanta devia respeitá-las.
Na vida real, não é bem assim.
Nunca foi na história da humanidade.
Mas quem surfa nelas costuma esquecer da lição que os levou ao topo da onda.
Ninguém é dono das ruas.
Na nossa praia, em que cada um aposta na marolinha ou na ressaca alheias, por mais previsível que seja, o tombo no mar sempre surpreende quem cai.
Foi assim com Lula, PT e aliados que, por se julgarem donos das ruas, se sentiram à vontade para meterem os pés pelas mãos. Quebraram a cara.
Pelo estrago que causaram, abriram caminho para as mais variadas reações. Perderam a sintonia com as ruas.
Como seus tradicionais adversários tinham medo de enfrenta-los, quem acabou pondo a cara foram os grupos de direita que captaram a sensação de insatisfação generalizada.
Saíram do armário, levantaram bandeiras antenadas com a opinião pública, e viveram o apogeu com o impeachment de Dilma Rousseff.
Olharam torto para o espelho.
A exemplo dos petistas, não souberam se enxergar.
Avaliaram que suas causas específicas eram as causas de todos. Misturaram o apoio da população à Lava Jato a bandeiras tão difusas como uma tentativa de ressurreição da ditadura militar e a revisão do Estatuto do Desarmamento.
Assim como a turma que, em nome da esquerda, se arvorou a ser a voz das ruas, essa assanhada direita pisa na bola ao se apresentar como a nova voz que fala pelas ruas.
Como anteciparam as redes sociais, essa arrogância pagou seu preço nas ruas nesse domingo (26). Está todo mundo cansado de ser massa de manobra de quem quer que seja.
Esse é o verdadeiro barato da democracia. Que bom.