O novo ministro da Justiça, Osmar Serraglio, conseguiu em poucas horas tomar o troféu Mico de Ouro das mãos do presidente Michel Temer, que o havia recebido com muito merecimento com suas declarações sobre a importância da mulher no lar. Em entrevista hoje à Folha de S.Paulo, Serraglio escorregou e jogou a Lava Jato definitivamente naquele gabinete do terceiro andar do Planalto. A questão principal desceu do quarto andar, onde fica a Casa Civil, e deixou de ser a participação de Eliseu Padilha, substituída pela discussão: até onde Temer sabia sobre a origem ilegal do dinheiro pedido para o PMDB?
Pode ser uma obviedade, mas Serraglio deu nome aos bois ao falar em “responsabilidade subjetiva”, que segundo ele é o que precisaria ser demonstrado em relação a Temer no caso da Lava Jato. O neoministro falou isso na tentativa de defender o chefe, que segundo ele não pode ser cassado sem provas: “Ele pode nunca ter sabido. Como eu tenho observado, ele nunca discutiu valores. Vai ter que aparecer que ele sabia que estavam recebendo dinheiro indevido”.
Essas palavras, verdadeiras, poderiam ter saído da boca de qualquer advogado, mas não do ministro da Justiça de Temer. Assim como Dilma e seu primeiro escalão erraram ao incorporar desde cedo a palavra impeachment ao léxico palaciano – ainda que para negá-la -não cabe ao titular da pasta da Justiça tecer comentários sobre as hipóteses em que o seu chefe poderia ser pego na Lava Jato, levando-as às manchetes.
É um tremendo estrago, e não o único produzido pelas declarações do ministro, que tem na biografia o papel de relator da CPI do Mensalão e parece querer cultivá-la.