O “efeito Orloff” da Operação Lava Jato

É um clássico da propaganda brasileira. Tão importante que se incorporou no linguajar das pessoas. O “efeito Orloff” era o seguinte. O cara aparecia prestes a tomar uma vodca de má qualidade. Então, ele mesmo aparecia para alertá-lo para o perigo. Mandava ele trocar por Orloff. “Mas quem é você”, perguntava a versão inicial do personagem. “Eu sou você amanhã”, respondia a outra versão. A ideia era dizer que, no dia seguinte, bebendo Orloff, o cara não teria ressaca.

Abaixo, uma das clássicas propagandas da vodca:

https://www.youtube.com/watch?v=038jv7crrUU

O “efeito Orloff” incorporou-se ao imaginário popular para designar qualquer situação em que alguém se vê vivendo algo que foi experimentado de forma semelhante por outra pessoa. Agora, o “efeito Orloff” parece estar habitando os ânimos do PMDB, com as delações da Odebrecht e os últimos rumos da Operação Lava-Jato.

O Estado de São Paulo publica que deputados do PMDB divulgam uma carta em que pedem a renúncia do senador Romero Jucá da presidência do partido em virtude das denúncias que há contra ele. Registre-se que, por enquanto, a proposta tem uma adesão muito pequena de peemedebistas. Mas ela não deixa, mesmo assim, de explicitar a existência no PMDB do mesmo tipo de debate interno que já há algum tempo movimenta o PT desde que o partido tornou-se alvo de denúncias de corrupção, que acabaram por desgastá-lo até o ponto de motivar o processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Esse é o “efeito Orloff”. Ainda que se possa discutir eventuais motivações políticas da Operação Lava-Jato e de seus desdobramentos, ela é, na sua essência, uma investigação sobre a forma como os partidos brasileiros se financiam e sobre a forma como financiadores e financiados se relacionam. Nesse sentido, ela se desdobra sobre todos os partidos, sobre as falhas desse sistema de financiamento, especialmente nas maiores legendas, que recebem as verbas mais polpudas.

Ocorre que quem está no poder acaba sempre mais chamuscado. Até porque, por estar no poder, é quem mais tem a perder. O PT foi durante um bom tempo o principal alvo. Parece ceder o lugar agora para o PMDB, como uma espécie de ônus adicional pelo exercício do poder. E discussões internas que marcaram nos últimos tempos o partido de Lula parecem agora começar a marcar o partido de Michel Temer. Ainda lá no mensalão, vale lembrar, o ex-ministro da Justiça Tarso Genro pregava o que chamava de “refundação” do PT, retirando do comando quem estava envolvido em denúncias. Não vingou. Mas a discussão meio que prossegue nos debates recentes que envolvem de um lado e de outro os senadores Humberto Costa (PE) e Lindbergh Faria (RJ).

Ainda que minoritária, a história da carta dos peemedebistas se assemelha a um esboço nessa mesma linha. A ressaca ainda pode ser pequena, talvez porque a degustação ainda esteja nos primeiros goles da vodca…

 

Rudolfo Lago é jornalista e colaborador em Os Divergentes

Deixe seu comentário