Vespertinas: Sarney, único ou primeiro & a suruba continua

José Sarney

Sarney, primeiro ou único I. A decisão da 2ª turma do STF de manter o ex-presidente José Sarney distante das garras do juiz Sergio Moro, potentado da Operação Lava-Jato, permite pelo menos duas interpretações. Nenhuma delas é republicana.

Sarney, primeiro ou único II. A primeira é que Sarney continuaria supostamente influente no Judiciário. Assim, o chefe do clã que comandou o Maranhão por 50 anos e deixou como herança o estado mais miserável do País, ao lado de Alagoas, tem chances de se safar das acusações de seu correligionário Sergio Machado, cujo grampo revelou conversas constrangedoras da veterana raposa.

Sarney, primeiro ou único III. Outra leitura, que não elimina a primeira, indicaria uma tendência para livrar os mais poderosos próceres do PMDB, até aqui praticamente ileso na Lava-Jato – tirante arrivistas como Sérgio Cabral, encarcerado no Rio de Janeiro. Como revelado por investigações do Ministério Público, lideranças do PT tomaram parte em dois grandes esquemas de corrupção: o Mensalão e o Petrolão. Enquanto governou, o PT sempre teve o PMDB como avalista insubstituível. No entanto, até aqui só o primeiro foi seriamente avariado.

Sarney, primeiro ou único IV. Claro, há quem acredite que Sarney seja tratado como um cidadão comum.


Leia também: Como Sarney virou o craque na justiça (Andrei Meireles)


A suruba continua I. Como sói acontecer quando um político se manifesta, a reação é sempre negativa. O senador Romero Jucá, eleito governador e quatro vezes senador pelos habitantes de Roraima, requer igualdade no foro privilegiado. Se é para restringir as prerrogativas dos parlamentares, cobra que o mesmo aconteça com juízes e procuradores.

A suruba continua II. Acuado pela Lava-Jato, o senador falou com o fígado em vez do cérebro. Talvez por isto tenha vomitado uma frase de efeito ao comparar o foro a uma “suruba”. Ou participam todos, ou proíba-se a orgia.

A suruba continua III. O senso comum é de que da boca de um político não pode sair uma verdade. Ora, o que interessa é que ele topa discutir “uma regra para todo mundo”. Por mais demagógica que seja a assertiva, o momento é propício para o debate.

A suruba continua IV. Não faz sentido, numa sociedade que se pretende igualitária, tratar magistrados como superiores a parlamentares. Os primeiros, além de vencimentos maiores e vitaliciedade, submetem-se apenas aos seus pares; os segundos se submetem ao crivo permanente do voto, fazendo do Parlamento reflexo dos eleitores.

Deixe seu comentário