Na montagem arquitetada pela sinistra durante a premiação do escritor Raduan Nassar houve alguma verdade e sobejou farsa. O recluso escritor de Lavoura Arcaica acertou ao definir nossos tempos como sombrios.
Errou, no entanto, ao delimitá-los ao governo Michel Temer. As sombras que pairam sobre o Brasil foram trazidas pela destruição da economia e, sobretudo, da política, depois de 13 anos onde o PT, escudado quase o tempo todo pelo PMDB de Temer, comandou os tortuosos rumos nacionais.
Deste largo interregno da história tupiniquim restou a descrença na política como mediadora de conflitos. Antes do PT, havia uma réstia de esperança de que a política podia ser exercida por militantes por princípio.
Ao arruinar a política, a sinistra revelou que a sigla da esperança era coalhada de políticos sem princípios. Mais do que destruir conceitos, a “íntegra” Dilma Rousseff, na definição do ficcionista, deixou a razia como herança.
Hoje, penam nos desvãos do desalento 12 milhões de brasileiros. A inflação, flagelo dos mais pobres, foi deliberadamente produzida na gestão da mandatária petista – deposta por fraudar as contas públicas.
Noves fora o inigualável esquema de corrupção montado sob os olhares da primeira-presidente – que nada viu, nada soube. Caso de cumplicidade ou desídia.
Consequência de sua incúria e arrogância, sempre com a complacência da dupla PT-PMDB, o Brasil vivencia a maior recessão já registrada por aqui. Na vida real, empresas de portas fechadas, povaréu sem emprego, esperanças desfeitas. Tempos e vidas perdidos.
Ditaduras não premiam rivais
O palco armado pela esquerda para atocaiar o apóstata Roberto Freire revelou a face de quem é incapaz de encarar a destruição que provocou. Como uma seita de seguidores mau humorados e mal-encarados, armou um espetáculo propagandístico.
Deu certo. A mídia tradicional, atacada como parcial pela sinistra, reproduziu a armadilha como se fosse autêntica.
Raduan e os militantes do pensamento único sabem que o espetáculo armado só poderia ser montado em democracias. Seria impensável em ditaduras, como Cuba, ou arremedos de tiranias, como a Venezuela – ambas festejadas por falsos democratas.
Naquelas paragens, adversários não são condecorados, são encarcerados. Lá, como no governo ideal da sinistra, a imprensa nunca repercutiria em primeira página o espetáculo urdido pela oposição. Tampouco um opositor seria agraciado com 100 mil euros.
Além de diagnosticar “tempos sombrios”, Raduan verbalizou outra máxima histórica – novamente com a visão embaciada de militante. “Escandalosa concentração de riqueza”, disse o escriba.
Concentração esta compartilhada por camaradas que, num processo simbiótico, aliaram-se à elite política e econômica – aí incluídos o PMDB, concubina preferida do PT, e neocompanheiros, como os empreiteiros amigos – para desbaratar parcos recursos públicos. São os meliantes do erário, como revelou a Lava-Jato.
Sim, os tempos são sombrios. E a sinistra de Raduan é protagonista desta era de destruição e intolerância.