A pergunta que não quer calar hoje em Brasilia é se a demissão do ministro Geddel Vieira Lima terá o poder de baixar a temperatura da crise e tirar de seu epicentro o presidente da República. É essa a intenção do Planalto, criando o fato e torcendo para Geddel arrastar consigo pelo menos parte do desgaste que atingiu Michel Temer, sobretudo depois do depoimento do ex Marcelo Calero à PF. Dificil prever se a estratégia dará certo, pois veio tarde, muito tarde.
A esta altura, Michel, que puxou a crise para dentro do Planalto ao não demitir o ministro no início da semana, já sofreu um grande abalo em sua imagem. E errou ao mandar dizer que tentou ‘arbitrar’ um desentendimento entre ministros, enredando-se mais ainda no caso. Afinal, o objeto da controvérsia era um interesse imobiliário particular de Geddel, contrariado por um órgão público, que nada tinha a ver com os interesses do país e da administração pública. Ou seja, o presidente já se envolveu no caso e ficou do lado errado. Pior: podem começar a circular por aí gravaçoes que o deixam em situação mais complicada ainda.
Tirar Geddel agora não vai apagar tudo isso. Se, do ponto de vista juridico, o caso ainda está longe do presidente da República, politicamente está sendo desastroso. O episódio repercutiu mal na mídia e, agora, nas redes sociais, que se enchem de convocações para manifestações de rua, memes e críticas ao governo. Tirou a tampa da panela de pressão e pode acabar despertando as ruas.
Dificilmente veremos Michel Temer sofrer um processo de impeachment no Congresso que controla ou ser processado e investigado no STF, mas a grande dúvida é se ele terá condições de governabilidade para fazer tudo o que precisa na economia e tirar o pais da crise.