De uma maneira que chamava atenção até entre os profissionais da política, Sérgio Cabral Filho sempre se comportou como um cara simpático, jeitoso e com a rara capacidade de fazer desabridos elogios, com aparente naturalidade, a quem puxava o saco. Assim, ele abriu caminhos, escalou-se como amigo de infância de empresários e políticos poderosos, e viabilizou negócios e acordos lucrativos para todos.
Nesse jogo de sedução, foi tão eclético que, depois de sua prisão, todos se sentiram à vontade para participar de um jogo de empurra sobre quem se relacionava com ele. Correligionário no PMDB do Rio de Janeiro, Moreira Franco, homem de confiança de Michel Temer, saiu logo dizendo que Cabral, na verdade, era aliado de Lula e do PT. Com a cara mais limpa.
Em uma articulação com todas as digitais de Moreira Franco, Sérgio Cabral foi decisivo na disputa interna no PMDB que manteve Michel Temer na presidência do partido e viabilizou o impeachment de Dilma Rousseff. Por meio de seu porta-voz, Temer também fugiu de qualquer proximidade com Cabral.
Dilma, por sua vez, também quis distância de Cabral. Lembrou justamente de seu papel no impeachment. Esqueceu, porém, do seu longo namoro político com Sérgio Cabral, Eduardo Paes e Luiz Fernando Pezão.
Basta uma simples pesquisa no Google para encontrar declarações recíprocas de unidade e afeto entre ela e Sérgio Cabral. Tudo bem que a hipocrisia, como sempre, é intrínseca à política.
No salve quem puder nas investigações lideradas pela Operação Lava Jato o maior empenho dos políticos é passar uma borracha no passado. Haja esforço.